Relatório
recente da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento) relativo ao fluxo de investimentos no mundo mostra que ainda
permanece forte a relação norte-norte. Em 2005, circularam US$ 916 bilhões na
forma de investimento, o maior valor desde o recorde do ano 2000, que foi US$
1,4 trilhão. A maior parte desses recursos tiveram como destino os países
desenvolvidos (60%), destaque para o Reino Unido, com US$ 165 bilhões (influenciada
por negociações da Shell com uma empresa petrolífera na Holanda). Entre os
países em desenvolvimento, não é surpresa citar a China como o principal
receptor, US$ 72,4 bilhões, acima do total destinado a outros países
desenvolvidos como França, Holanda, Canadá e Alemanha. O Brasil aparece na 14a
posição, atrás de Singapura e México. Ressalta-se que a origem desses recursos
continua a ser, em sua grande maioria, os países desenvolvidos, no ano passado
destacam-se a França, Reino Unido, Japão e Alemanha.
Da mesma
forma que é possível notar uma intensificação das relações de investimento
entre os países desenvolvidos, também é verdade que os países em
desenvolvimento estão elevando a sua participação no total investido. Hoje,
esse grupo já detém cerca de 17% do estoque de ativos investidos no exterior.
Porém, o destino desses recursos tem seguido a relação sul-sul, com um detalhe
importante: com concentração inter-regional, ou seja, empresas
Latino-Americanas investindo na própria região e o mesmo acontecendo na Ásia e
na África. Tal comportamento revela a intensificação do processo de
globalização nos últimos anos, em especial nas empresas.
Do total
movimentado no ano passado, US$ 644 bilhões foram destinados para a construção
de novas fábricas e aquisições, com predominância de negócios para os setores
de serviços, como finanças e telecomunicações. Nessa corrida por investimentos,
algumas regiões têm saído na frente. Não bastasse o fato de que os novos países
membros da União Européia (República Tcheca, Hungria, Polônia e Eslováquia),
apresentarem custos trabalhistas cerca de 30% menores que os verificados nos
demais países da União Européia, os governos locais continuam a fazer reformas
importantes, como privatizações, redução de impostos sobre os lucros e criando
incentivos para a atração de investimento estrangeiro. Tal iniciativa já tem
surtido efeito, e esses países consolidaram a sua posição como local preferido
para os investimentos europeus, em especial os destinados para a indústria
automobilística. Atualmente, a produção de veículos nesses quatro países é de
cerca de 1,6 milhão, e a previsão é que dobre nos próximos cinco anos.
Como pode ser
visto, a aldeia global não é novidade no mundo dos negócios e, a cada ano que
passa, os mercados ficam cada vez mais acessíveis, resultando em novas
oportunidades da mesma forma que aumenta a concorrência em diversos setores. E
tudo indica que esse movimento deve se intensificar. Vale destacar que, das 100
maiores empresas no mundo, 85 são originárias de países desenvolvidos. Para se
ter uma idéia da importância da ação das multinacionais na economia, elas já
são cerca de 77 mil companhias no mundo, gerando quase US$ 4,5 trilhões em
valor adicionado (10% do PIB mundial), empregando mais de 62 milhões de pessoas
e exportando um total de US$ 4 trilhões em bens e serviços, 33% do total
mundial.
Apesar disso,
as multinacionais de países em desenvolvimento estão conquistando seu espaço,
mesmo que lentamente. Há cinco anos, a participação das empresas dos países em
desenvolvimento nesse processo de globalização era pequena. Agora, não apenas
as estratégias estão voltadas para o mercado internacional, aproveitando-se dos
ganhos de competitividade presentes em custos de mão-de-obra mais baixo, como
também os governo de diversos países na Ásia e África estão atuando de forma
agressiva para permitir que suas empresas ocupem um lugar de destaque no
mercado global. Atualmente, são pouco mais de 13.000 empresas multinacionais de
países em desenvolvimento, mas que já respondem por US$ 1,9 trilhão em vendas e
empregam cerca de 6 milhões de trabalhadores. Nesse conjunto, destaque para as
multinacionais asiáticas, que somam 77 das 100 maiores dentre o grupo dos
emergentes. O Brasil figura com apenas duas empresas nesse grupo, a Petrobrás e
a Companhia Vale do Rio Doce.
O movimento recente dos
investimentos estrangeiros parece sinalizar para um “rearranjo” no mercado
global. Países que apresentam taxas de crescimento elevadas, como é o caso da
China e do leste e sul da Ásia, estão começando a constituir um conjunto de
empresas com poder de mercado para se tornarem fortes concorrentes no mercado
global. Além disso, a menor tributação sobre os lucros têm permitido que as
empresas dessas regiões adquiram musculatura para fazer investimentos e atuar
em pé de igualdade no mercado internacional. É verdade que muitas são estatais,
mas a continuar o processo de reforma estrutural que esses países estão
engajados, a perspectiva de privatização deverá resultar em um mercado mais
competitivo ainda nos próximos anos. Setores como telecomunicações,
informática, veículos partes e peças, serviços financeiros e produção de
condutores e semi-condutores, estão encabeçando essa lista. Dado esse cenário,
não será novidade que o Brasil comece a conviver cada vez mais com
investimentos de empresas com capital de origem em países em desenvolvimento.
Publicado no Informe Econômico/FIERGS
30/10/2006
Nenhum comentário:
Postar um comentário