A elevação do
preço de diversas commodities não-petrolíferas nos últimos cinco anos, acima do
aumento verificado no preço do petróleo, contribuiu para alavancar o
crescimento econômico de países cujas exportações dependem desses produtos.
Porém, tal comportamento não é homogêneo, com os metais aumentando de preço em
180% desde 2002, ao passo que os produtos alimentares apenas 20% e os agrícolas
5%. Vale lembrar que muito dessa evolução está relacionada ao baixo nível de
investimento que foi feito no mundo na produção de metais durante a década de
1990 e início da de 2000, quando então os preços ainda apresentavam tendência
de declínio.
Outra fonte
importante de pressão tem sido o crescimento econômico dos países emergentes,
em especial da China. De 2002 a 2005 o consumo mundial de alumínio aumentou em
7,6%, e somente a China contribuiu com metade desse crescimento na demanda. Da
mesma forma, é possível notar essa influência no aumento da demanda por cobre,
níquel, aço e zinco. O mesmo pode-se dizer em relação ao aumento da demanda por
banana, algodão, carne e milho. Uma outra fonte de pressão nos preços que tem
sido muito citada é o movimento especulativo de investidores no mercado futuro.
Porém, a comparação entre os dados de preços correntes com o comportamento do
mercado futuro não valida essa afirmação.
Dada a
significativa exposição de alguns países a flutuações do preço dessas
commodities, o comportamento futuro desse mercado tem importantes implicações
políticas. Afinal de contas, em cerca de 36 países as exportações de commodity não-petrolíferas representa
mais de 10% do total exportado pelo país. Em alguns casos, como no Suriname com
o alumínio e o Chile com o Cobre, essa dependência ultrapassa os 30%.
O primeiro
aspecto a considerar em projeções nesse mercado está relacionado ao
comportamento cíclico desses preços. Estudos recentes – ver IMF(2006), mostram
uma alta correlação entre o crescimento econômico mundial e a elevação do preço
desses produtos, em especial das commoditites metálicas. Destaca-se que as
agrícolas também apresentam esse comportamento, porém, menos acentuado. Tal
resultado deve-se à capacidade de resposta da produção nesse setor ser mais
rápida que na produção de metais e também pela menor elasticidade renda-demanda
dos produtos agrícolas. Ou seja, na medida em que aumenta a renda mundial, seus
impactos são maiores sobre a demanda de produtos metálicos do que nos produtos
agrícolas. Além disso, vale destacar que os países que se encontram em processo
de industrialização, costumam ter uma demanda maior por produtos metálicos,
como forma de atender a uma demanda crescente de uma indústria em expansão e
nos investimentos que são feitos em infra-estrutura. Tal comportamento
verificou-se no processo histórico de crescimento do Japão, Coréia, EUA e da
Região do Euro, e mais recentemente como ocorre na China e na Índia.
Porém, na
medida em que se atinge um determinado patamar de renda per capita, entre US$
15 mil e US$ 20 mil por ano, essa taxa de crescimento da demanda por metais é
menor. Como a China encontra-se no patamar de renda de US$ 6 mil dólares/ano –
quando medida pela paridade do poder de compra – pode-se concluir que ainda há
muito espaço para o crescimento da demanda por metais, o que deve influenciar
seu preço no futuro. Segundo estimativas feitas pelo IMF(2006) a expansão da
demanda por alumínio e cobre, em especial, deve crescer. Porém, a projeção de
aumento da capacidade instalada desses produtos, irá contribuir para reduzir a
pressão sobre os preços. Mesmo assim, até 2010, a expectativa é que o nível
médio de preço desses dois produtos ainda estará em um patamar elevado, em
relação à média histórica.
No caso dos
produtos agrícolas, dois fatores deverão influenciar o comportamento futuro dos
preços mais do que a expansão da demanda: a produtividade e os custos de
produção. No primeiro caso, o avanço tecnológico e em pesquisas na área deve
contribuir para manter os preços baixos. Porém, a perspectiva de manutenção do
preço do petróleo em patamares elevados deverá influenciar os custos de
produção do setor, em especial pelo uso de fertilizantes. No médio prazo, outro
fator que pode contribuir para elevar o preço de alguns produtos agrícolas no
cenário internacional é a eliminação dos subsídios concedidos a esses setores.
Destaca-se que cerca de 30% dos rendimentos recebidos por agricultores nos
países desenvolvidos, provém de tarifas de importação, subsídios à exportação e
pagamento direto feitos pelos governos.
Essas
variáveis podem não fazer o preço dos produtos agrícolas aumentarem na mesma
magnitude que o preço dos metais e do petróleo, (estimativas apontam aumento de
5,1% no preço da carne, 5,8% no preço do açúcar e 13% no algodão), mas deverão
contribuir para a manutenção nível de preços desses produtos, o que irá se
constituir em um fator positivo para alguns países em desenvolvimento, como o
Brasil. Se esses países souberem aproveitar essa fonte de recursos, como tem
feito o Chile, estarão criando as condições para saltar da linha de pobreza.
IMF, The Boom in nonfuel commodity: can it last?
WEO, September, 2006.
Publicado no Informe Econômico/FIERGS 25/09/2006
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