Os
economistas são pródigos em gerar indicadores. Havendo uma informação sobre um
determinado setor, em qualquer local e para um dado período, então lá estaremos
para construir indicadores que possam sinalizar o comportamento dos
consumidores, das empresas, do comércio, da indústria e muitos outros. De uma
maneira geral, a sociedade já se acostumou com a maioria dessas referências.
Alguns índices são mais conhecidos, como é o caso da medida de inflação e do
PIB, outros nem tanto. Provavelmente, poucos ouviram falar do ICEI, índice de
confiança do empresário industrial. A relação entre moedas não foge a essa
regra, como é o caso da taxa de câmbio. Em qualquer país há uma dúzia de
indicadores que são montados a partir da cotação cambial. A justificativa é
que, independentemente do grau de abertura de uma economia, seja para comércio
ou então para transações financeiras, o câmbio é uma variável determinante do
comportamento dos preços internos e das decisões de investimento. E quanto
maior for o grau de abertura de uma economia, mais a taxa de câmbio irá
refletir as relações internas e externas.
Atualmente,
muito se discute no Brasil o processo de valorização do Real verificado nos
últimos anos. Não vamos aqui abordar as questões relacionadas aos custos ou
benefícios dessa valorização. Antes disso, é importante que se determine se
realmente a nossa moeda está valorizada, e se a resposta for afirmativa, tentar
medir quanto é essa valorização. Em primeiro lugar, para afirmar a magnitude de
uma valorização, é necessário especificar a data base que será feita a
comparação. Por exemplo, em julho de 1994, início do Plano Real, a taxa de
câmbio no Brasil era de R$/US$ 0,93, ao passo que, em outubro de 2002 a média
do mês foi de R$/US$ 3,80. Assim, se escolhermos como data de referência o
início do Plano Real, então poderíamos dizer que o câmbio hoje se encontra
desvalorizado em 113%. Por outro lado, se o ponto de comparação é out/02, aí a
valorização chega a 48%. Claramente são dois extremos. A questão é que não há
justificativa econômica que sustente a escolha de qualquer uma dessas datas.
Portanto, temos aqui um primeiro problema a solucionar quando nos referirmos á
magnitude de uma valorização da moeda: valorizada em relação a qual data?
É difícil ter
unicidade de opinião sobre esse ponto. Felizmente, a literatura econômica tem
sinalizações de como podemos tentar resolver essa questão, analisando a chamada
taxa de câmbio de equilíbrio. Mas equilíbrio em relação a qual indicador e em
relação a qual período? O termo equilíbrio em economia tem a ver com longo
prazo. Na verdade, para preservar as condições iniciais de competitividade
externa de um País, o câmbio hoje deve apresentar uma cotação que esteja
próxima à chamada média histórica. Pequenas oscilações para cima ou para baixo
são passíveis de ocorrer, mas com possibilidade de correção. Essa é a definição
de câmbio de equilíbrio. Dessa forma, tanto uma cotação muito valorizada quanto
uma muito desvalorizada para os padrões históricos de uma economia, seriam
pontos que não servem de referência, uma vez que não correspondem ao
equilíbrio. Diante disso, não isento de críticas, vamos considerar a data de dezembro/98
como a de referência.
A partir de
então, devemos comparar o câmbio de hoje com o valor daquela data. Mas devemos
ter o cuidado de considerar a influência de outras variáveis nessa medida. Em
primeiro lugar, vamos abandonar a relação pura e simples da moeda e considerar
um valor que pondere pela evolução da inflação. Tal análise se justifica pois
R$ 1 de hoje não é o mesmo de R$ 1 de nove anos atrás. A medida que considera
os impactos inflacionários é conhecida como taxa de câmbio real. Por esse critério,
usando o IPCA e o índice de preço ao consumidor dos EUA, o câmbio hoje ainda
estaria desvalorizado em 14%, e a cotação que pode assumir para igualar aquela
data de referência é R$/US$ 1,74. Mas nada garante que o IPCA é o melhor
indicador para deflacionar a taxa de câmbio. Sendo assim, podemos usar o IPA-DI
(índice de preço no atacado), e que reflete a evolução dos preços de produtos
transacionados em um elo da cadeia anterior ao consumidor. Com esse critério, o
câmbio estaria valorizado em 9,4%, e deveria ter uma cotação de R$/US$ 2,19
para manter o equilíbrio com a data de referência, que é dezembro de 1998.
Podemos usar
outros indicadores. Por exemplo, se a medida de taxa de câmbio real for
ponderada pela produtividade da economia, então há uma valorização de 8%, e a
cotação deveria ser de R$/US$ 2,18. Nesse caso, diz-se que o Brasil não está
sendo produtivo o suficiente para compensar a valorização do câmbio, o que pode
ser interpretado como perda de competitividade no mercado externo. Quando medimos
o câmbio em relação ao salário, encontra-se que o Real está valorizado em 13%,
e deveria ter uma cotação de R$/US$ 2,29. Ou seja, dada a política de reajuste
salarial e de forte valorização da moeda, os salários no Brasil medidos em
dólar estão valorizados, o que representa perda de competitividade externa.
Apesar da
dificuldade em escolher uma data de referência para a cotação do dólar que
represente o equilíbrio, podemos notar que, independentemente do indicador que
se utiliza, a sinalização é clara: a taxa de câmbio hoje encontra-se
valorizada. É difícil dizer o quanto, pois tal afirmação deve levar em
consideração a influência de outros fatores. Porém, podemos inferir que esse
cenário reduz a competitividade da economia brasileira, e sinaliza a necessidade
de uma reversão da taxa de câmbio. Também é difícil dizer para quanto.
Publicado no Informe
Econômico/FIERGS 23/07/2007
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