Bastaram dois dias de turbulências no
mercado acionário mundial para que os sinais de vida do risco se fizessem
sentir. A divulgação, por parte do FMI, de revisão para cima do crescimento
econômico mundial no biênio 2007 e 2008, foi negligenciada pelos resultados da
venda de residências nos EUA, que apresentaram uma queda mais significativa que
a esperada por analistas. O efeito dominó sobre outros ativos como ações e
fundos de investimento foi inevitável, em um mercado financeiro cada vez mais
integrado. E os impactos foram sentidos também em outros países, em especial
nos emergentes.
Demorou algumas horas para se perceber
que o barulho era muito maior do que o necessário, a exemplo do movimento de
venda que se verificou no início do ano nas bolsas da Ásia. E logo os
investidores fizeram correções. A própria divulgação na sexta-feira dos resultados
do segundo trimestre do PIB dos EUA, com crescimento anual de 3,4%, e que veio
acima do esperado por analistas, contribuiu para mostrar que os riscos de
rompimento do atual cenário de crescimento mundial são baixos. Nessa análise,
há um fator importante a destacar e que diferencia o atual ciclo dos ocorridos
no passado, o crescimento coordenado entre as nações. Nesse caso, a perspectiva
de que a economia americana irá crescer menos, é contra-balanceada pelas
projeções feitas para a Ásia, América Latina e Europa.
Porém, devemos tirar algumas lições do
ocorrido. Entre 2004 e o início desse ano, os fatores de risco eram bastante
conhecidos pelos investidores: o conflito político no Oriente Médio, as tensões
promovidas pelo Irã, Coréia do Sul e Venezuela, e a evolução do preço do
petróleo. Além disso, as notícias da existência de risco de bolha no mercado
imobiliário americano já eram alardeados. Mas, até então, esses fatores em
pouco influenciavam o chamado “humor” do mercado, que atravessou quase 36 meses
de relativa estabilidade global, com valorização contínua dos diversos ativos.
O evento da semana passada já foi o terceiro repique mundial em menos de quatro
meses. Parecem gritos isolados na imensidão de prosperidade econômica, mas
mesmo assim causam uma sensação estranha de que algo está por vir. Não que se
deseje que ocorra o pior, mas é sempre bom testar os cenários de stress, para vermos onde se encontram as
falhas, e procurar evitar o pior.
Sabe-se que a pimenta no menu dos
mercados financeiros é a incerteza. Na presença dessa, há volatilidade e prêmio
de risco, o que potencializa os lucros. Pode parecer estranho para nós, que
estamos no lado real da economia, desejando estabilidade nos ativos para fazer
planejamentos de médio e longo prazo. Mas, para investidores em ativos de
risco, essa é uma variável determinante. O cenário atual mostra-se enfadonho,
morno, sem novidades, poucos riscos e muito previsível para quem atua no
mercado financeiro. Até o petróleo perdeu espaço nas discussões. Parece que a
economia se adaptou a uma situação de preço médio maior. Ou então os
investidores vêem menores riscos nesse mercado devido a alternativa de entrada
de um concorrente capaz de limitar os impactos dessa commodity, como é o caso
do biocombustível. Mas, os livros e a prática ensinam que se a oscilação nos
preços dos ativos é menor, os ganhos potenciais com derivativos ficam
reduzidos. Se o investidor quer mais retorno, deve aceitar correr mais riscos.
Mas onde há mais risco, se até os emergentes apresentam estabilidade? Tem
havido uma espécie de “garimpo” por risco por parte de investidores. Parece que
há uma vigília sobre o momento exato do rompimento das estruturas financeiras
montadas ao redor do mundo. Mas, mesmo assim, nada parece abalar a confiança
dos consumidores nos EUA, na Europa e Ásia.
Dessa forma, diante do ocorrido, nos
perguntamos se realmente existem riscos potenciais, ou apenas especulação com o
objetivo de promover um pouco mais de incerteza. Será nostalgia dos tempos em
que as notícias de economia realmente chamavam a atenção, ou há algo de errado
nesse cenário? Com uma boa dose de risco de errar, afirmamos que os riscos de
crise coordenada são baixos. Os fundamentos das economias não mudaram no último
mês, e a safra de balanços trimestrais irá mostrar lucros altos o suficiente
para dar suporte a novos investimentos em expansão da produção.
Apesar dos riscos baixos, prefiro fazer
uma leitura esotérica do ocorrido, interpretando os movimentos dos ativos no
Brasil, como um sinal de que continuamos vulneráveis a ventos fortes. A
justificativa de que investidores procuraram um “porto seguro” para os ativos,
retornando para os títulos americanos, é aceitável, mas não explica sozinho
porque os ativos no Brasil oscilaram mais que os ativos nos demais países. Onde
estão as reformas para nos proteger do pior?
Publicado no Informe Econômico/FIERGS
30/07/2007
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