Os últimos quinze anos foram marcados
por profundos processos de mudanças institucionais em todos os países. Vários
esforços em aumentar o grau de integração comercial entre as diferentes regiões
foram verificados nesse período, e o desenvolvimento da tecnologia da
comunicação e a adoção de regras mais claras sobre contratos, permitiu uma
maior integração financeira entre países emergentes e desenvolvidos. Apesar de
ainda ser necessário percorrer um longo caminho, podemos dizer que a América
Latina, a Ásia e os países do Leste Europeu passaram a ocupar lugar de destaque
na conjuntura internacional.
Porém, da mesma forma que a integração
econômica e financeira traz benefícios, ela também produz alguns custos. Para
entender essa contabilidade, uma forma clara de expor seus resultados é dividir
o processo de integração entre regional e global. No primeiro caso, dizemos que
há uma maior relação entre o país e os demais localizados na própria região.
Por outro lado, a integração global deve ser entendida como um processo de
maior relação com outros países em todas as regiões. Recente estudo do
BIS(2007) – Bank for International
Settlements, mostra que o processo de integração econômica e financeira na
América Latina contribuiu nos últimos anos para facilitar a diversificação dos
riscos por parte dos investidores internacionais. Ou seja, investir na região
contribuiu para agregar valor na medida em que reduziu os riscos sistêmicos,
uma vez que o mercado financeiro internacional ainda analisa a região como um
todo. Esse resultado se mostrou melhor que os encontrados para a Ásia e o Leste
Europeu. Um dos motivos que podem ser apontados, nesse caso, é que essas
regiões ainda não possuem um mercado de títulos tão desenvolvido como na
América Latina e, portanto, não atraem recursos com essa finalidade na mesma proporção.
Por outro lado, é possível notar que
existe um maior “regionalismo” no investimento na Ásia. Ou seja, a poupança da
região é investida mais em títulos de países da própria região. Em especial,
investidores de Cingapura e Hong-Kong, dois importantes centros financeiros
locais, procuram investir em títulos de governos ou empresas localizadas na
região. O mesmo não se verifica em tamanha intensidade na América Latina, com
poucos investidores na Argentina, por exemplo, aportando recursos no Brasil, Chile
ou México. Um resultado interessante, e que pode sinalizar que os investidores
da região se comportam de maneira conservadora quando se trata de aportar
recursos nos países vizinhos.
Outro resultado que chama a atenção é
que os países do Leste Europeu têm se beneficiado proporcionalmente mais do
fluxo de capitais proveniente das economias desenvolvidas da União Européia, do
que os emergentes da Ásia com o Japão, ou os emergentes da América Latina com
os EUA e Canadá. Esses resultados indicam que os países do Leste Europeu estão
se integrando de forma mais rápida com outros emergentes e também com outros
países desenvolvidos do que a América Latina. A considerar a disponibilidade de
capitais na América do Norte, podemos conjecturar a ineficiência da região em
capitalizar a proximidade com esse mercado - um resultado tipicamente
relacionado com as amarras ideológicas que continuam a impedir nosso
desenvolvimento.
Outro fato importante é que em um
cenário de maior integração financeira mundial, o crescimento econômico de um
país passa a depender menos da taxa de poupança interna. Como a poupança
externa passa a ser elemento determinante na composição do investimento, o que
irá diferenciar a capacidade de absorção desses recursos entre os países é o
grau de transparência e respeito a contratos prevalecentes nas instituições
nacionais. Assim, será exigido, cada vez mais, dos governantes locais a adoção
de regras mais críveis e menos desvios de conduta, como a prática de corrupção.
Essa sinalização positiva recebe como prêmio o aporte de capitais que não são
de curto prazo, e sim para investimentos em infra-estrutura, participação
acionária em empresas ou então na construção de novas unidades produtivas,
constituindo um foco no longo prazo. Da mesma forma, seremos punidos se não
seguimos as “regras desse jogo”. Destaca-se que a maior integração econômica e
financeira facilita a diversificação de investimentos, reduzindo os impactos
dos riscos associados a choques macroeconômicos de um único país, ou então
ativo. Em outros momentos da história econômica mundial, a atual crise do
mercado subprime nos EUA teria impactos muito mais amplos sobre outras
economias e ativos se o grau de integração econômica e comercial ainda fosse
reduzido.
A integração financeira deve continuar
a se intensificar nos próximos anos, e cada vez mais países em todos os
continentes vão lutar para ter acesso a esses recursos de longo prazo. O Brasil
deve decidir se entrará nessa disputa, ou ficará como expectador. Se a escolha
for entrar na briga, devemos aprofundar as reformas institucionais e permitir
que o setor privado continue a ganhar em produtividade, para ter condições de
concorrer no cenário nacional e internacional. Caso contrário, iremos depender
da geração de poupança interna para financiar nosso crescimento. Nesse caso, o
governo deve controlar gastos para permitir a queda mais rápida dos juros e,
com isso, deixar de “abocanhar” grande parcela da poupança, abrindo espaço para
o investimento privado. Como pode ser visto, qualquer que seja a escolha,
necessariamente passa-se por ações políticas, e aí reside o maior dos
problemas.
Publicado no Informe Econômico/FIERGS
17/09/2007
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