A divulgação dos indicadores da economia
brasileira nos impele a fazer constantes revisões do desempenho do PIB para o
ano de 2007. De uma expectativa de crescimento de 3,5% no início do ano, a
mesma já se encontra em 4,7%, e não surpreenderá se for revista novamente para
cima até o final do ano, mesmo diante da recente mudança no cenário
internacional que aumentou a desconfiança dos investidores, em especial em
relação a mercados emergentes. Diante de perspectivas tão positivas para o
Brasil, sempre há quem se pergunte: afinal de contas, de quem é a
responsabilidade por resultados tão expressivos diante de uma média pífia de
crescimento de 2,5% ao ano entre 1995 e 2002, se a política econômica é a mesma
e pouco foi feito para melhorar a produtividade da economia nos últimos quatro
anos?
Em primeiro lugar é importante não apenas
acreditar, mas aceitar que os resultados econômicos presentes carregam parte de
ações passadas. Em alguns casos, esse carregamento é mais curto, até dois anos,
em outros é mais amplo, e envolve uma década. Nesse sentido, devemos retornar
para outro momento na história econômica brasileira: a abertura comercial
promovida no início da década de 1990 e o programa de desestatização e
privatização de meados da mesma década. Ambas ações, não apenas contribuíram
para modificar nossa dinâmica de crescimento no passado, mas produzem
resultados positivos hoje, e ainda devem produzir para o futuro. Se atualmente
temos setores exportadores dinâmicos, maior acesso a novas tecnologias
produzidas no exterior e maior acesso da população a bens de consumo
relacionados à comunicação como telefonia e Internet, isso se deve, em parte, a
essas ações do passado.
Em segundo lugar, vale lembrar que a
economia brasileira hoje é mais integrada com outros países e, por assim ser,
sofre os impactos de choques externos. Assim é que as crises financeiras
internacionais de 1995, 1997, 1998 e 2001 contribuíram para limitar a
performance de diversos emergentes. É claro que o Brasil acabou sofrendo mais
que a média, reflexo da ausência de reformas que “blindassem” a nossa economia.
Mas, mesmo sem fazer essas reformas, a crise atual de longe nem produziu os
mesmos impactos do passado.
Nesse ponto devemos olhar para uma
estatística muito importante, e que representa o centro de todo esse processo.
No ano 2001, o comércio mundial de bens e serviços somava US$ 7,6 trilhões.
Após o estouro da bolha do mercado de ações nos EUA, as crises contábeis e os
atentados terroristas, o Banco Central americano reduziu os juros para o menor patamar
da história do país, contribuindo para aumentar a liquidez mundial e evitar que
o mundo entrasse em um ciclo recessivo. Mais dólares em circulação, maior
demanda, maior comércio de bens e serviços, maior escala das empresas, lucros
maiores e que resultam em maior investimento, re-alimentando o ciclo positivo.
Os anos que se seguiram comprovam esse movimento, com a economia mundial
crescendo uma média de 4,5% ao ano entre 2002 e 2006. Na mesma linha, o total
de bens e serviços exportados por todos os países atingiu a cifra de US$ 16
trilhões no ano passado. Note que são US$ 8,4 trilhões a mais do que o
observado há 5 anos. Isso equivale a um adicional de US$ 1,7 trilhão/ano na
movimentação de produtos. Nesse caso pouca diferença faz se o motivo é preço ou
quantidade, é receita.
As empresas brasileiras embarcaram nessa
onda de crescimento, e nossas exportações injetaram R$ 42 bilhões a mais na
economia em 2002 relativamente a 2001. E mesmo com o processo de valorização do
câmbio, de 2003 a 2006 foram R$ 1,46 trilhão derivado das exportações de bens e
serviços. São recursos que servem para irrigar a economia, pagam salários que
são revertidos em consumo de outros bens produzidos por outras empresas. São
revertidos em compra de novos insumos produzidos em outros países ou mesmo
dentro do Brasil, multiplicando os efeitos para outros setores e movimentando a
matriz industrial. Representam parte do lucro que posteriormente é revertido em
ampliação da capacidade de produção, gerando emprego na obra e também durante o
processo produtivo. Enfim, uma parte da liquidez de reais na economia
brasileira derivou do aumento das exportações.
Outra parte está relacionada ao processo
de redução das taxas de juros básica – Selic,
que resultou em menores custos financeiros para o tomador final. Além disso, o
afrouxamento da política monetária foi seguido da política do micro-crédito.
Soma-se a esses um cenário de crescimento do emprego e da massa de salários,
positivamente impactada pela estabilidade de preços, então temos os elementos
necessários para promover um aquecimento da demanda nos moldes que vemos hoje.
É por isso que para conseguir alguns produtos, há fila. Tal cenário também se
estendeu para os investimentos na construção civil, que apresenta números que
atestam os recordes de crédito e de lançamentos em todo o país.
Por fim, uma última fonte de alavancagem
da demanda interna foi a expansão do gasto público. Seguindo a política de que
pagar salários é mais produtivo que investimentos em infra-estrutura, a União
expandiu em R$ 40 bilhões suas despesas com pessoal entre 2002 e 2006.
Aprendemos nos bancos de escolas sérias de economia que desequilíbrios entre
oferta e demanda são corrigidos pelas variações nos preços. A bonança da
demanda de hoje pode ter como conseqüência um pouco mais de inflação amanhã, se
o governo não começar a incentivar o investimento do setor privado.
Publicado no Informe Econômico/FIERGS
10/09/2007
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