Há tempos que se analisa o
comportamento cíclico de indicadores econômicos para o embasamento de
previsões. O mais conhecido é o ciclo de produção agrícola, que ainda desafia
profissionais ligados ao tema em todo o mundo. Apesar disso, muito se aprendeu
com os movimentos de expansão e queda da produção em determinadas culturas, e
como outras variáveis importantes como o clima, a produtividade, o uso de
produtos químicos e de avanços científicos, influenciam esses movimentos.
Além disso, os economistas passaram a
investigar como a idéia de movimentos cíclicos se aplicava em outros setores
produtivos, em especial na indústria e vendas no comércio, e também no consumo
privado e investimento. Os estudos nessa área tinham como foco principal
identificar padrões que pudessem orientar as políticas econômicas, com o
intuito de reduzir os impactos negativos produzidos por uma recessão,
independentemente de sua origem.
Naturalmente foi possível verificar que esses
movimentos cíclicos tinham uma relação estreita entre as diferentes variáveis e
países. No primeiro caso, uma queda da produção estaria associada a uma
retração no nível de emprego, com conseqüente queda da massa de salários,
consumo e vendas do comércio e todos os demais efeitos na economia. Vale
ressaltar que, apesar desses movimentos não ocorrerem em idênticos momentos no
tempo, as relações eram claras. Assim, foi possível construir indicadores que
retratam e sinalizam os potenciais impactos de uma recessão.
No segundo caso, o objeto de
investigação passa a ser como o aumento ou queda da produção em um país ou
região, poderia afetar outros países ou regiões, o chamado efeito “spillover”. Na medida em que aumenta o
grau de integração comercial e financeira entre as economias, é de se supor que
uma crise localizada em um determinado país pudesse se espalhar por outros
países em um efeito dominó.
O aumento do preço do petróleo produziu
resultados negativos sobre a atividade econômica mundial no início e no final
da década de 1970, assim como também o período de alta de juros na primeira
metade da década de 1980 derrubou a atividade econômica mundial. Da mesma forma
pode-se avaliar a crise do setor de tecnologia em 2001, que teve o potencial de
atingir diversos mercados no mundo e, para tanto, usou o canal da integração
financeira.
Porém, é importante destacar que esses
choques eram de natureza comum a todos os países, ou seja, um preço maior do
barril de petróleo e uma redução coordenada do preço dos ativos nos mercados
acionários, impactam toda as economias, possuindo essas um maior grau de
abertura comercial e financeira ou não. Desde então, os ciclos recessivos
mundiais tornaram-se menos freqüentes, a despeito da maior integração, e
estiveram associados muito mais a movimentos localizados e com impactos
regionais. Tal cenário pode ser comprovado com a crise do México em 1995, da
Ásia em 1997 e da Rússia em 1998, restritos a determinadas regiões, e países
emergentes e que não produziram uma retração econômica de proporções globais.
O cenário econômico mundial encontra-se
em perfeita harmonia há mais de cinco anos, com crescimento na Ásia, Europa e
América e redução do risco nos países emergentes. As exceções situam-se em
pequenas intempéries políticas localizadas no Oriente Médio e na Venezuela, mas
o mercado já assimilou seus impactos em um preço médio do barril do petróleo
mais elevado, descartando a possibilidade de choques de maiores proporções como
na década de 1970. Tal avaliação é importante, pois sinaliza que a construção
de uma crise econômica em escala mundial tem poucas chances de ocorrer no médio
prazo.
Apesar disso, a redução do ritmo de
crescimento da economia americana enseja impactos sobre a atividade produtiva
em outros países, dada a sua importância sobre o PIB mundial (cerca de 20% do
total) e a intensa inter-relação comercial que possui com outras regiões (os
EUA participam com 11% das exportações mundiais). Recente relatório do FMI, o
WEO (World Economic Outlook), analisa
esses e outros efeitos dos movimentos cíclicos coordenados.
Os resultados sinalizam que a
perspectiva de uma menor taxa de crescimento do PIB dos EUA não é descartada,
porém, dada a origem localizada de sua causa, o desaquecimento do mercado
imobiliário, seus impactos globais devem ser limitados. Os maiores prejudicados
devem ser setores específicos exportadores para os EUA, e países limítrofes,
como o Canadá e o México. De qualquer maneira, a ponderação desse desaquecimento
com a atividade produtiva em outras regiões deve manter o equilíbrio econômico
internacional.
Não se descarta a incidência de crises de
proporções globais, mas seus riscos são menores diante de um cenário de
coordenação de política macroeconômica, em especial num regime de metas de
inflação. À exceção de um choque de origem global, os ciclos econômicos
mundiais devem ser menos sincronizados, com potenciais de impactos mais locais
do que gerais. Aos poucos vamos aprendendo a lidar com os movimentos cíclicos
da economia.
Publicado no Informe Econômico/FIERGS
16/04/2007
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