Desde 1999 que a FIERGS promove uma
análise do cenário internacional, nacional e regional, procurando detalhar os
fatores de risco e as perspectivas de desempenho para as variáveis mais
importantes para a economia no ano seguinte. Ao final de 2006, os elementos que
estavam postos corroboraram para a projeção de um cenário otimista para o
Brasil e o Rio Grande do Sul. Os maiores fatores de risco estavam centrados no
comportamento do mercado imobiliário dos EUA e os impactos que o movimento do
preço do petróleo poderia ter sobre a inflação e a decisão de política
montaria, tanto na economia americana quanto na Europa. Como forma de
precificar esses elementos, nosso cenário pessimista considerava o aumento dos
juros no cenário internacional. Desde então, essa perspectiva se modificou, e
as atas do Banco Central Americano atestam a aposta de manutenção da taxa básica
em 5,25%, com potencial de pequena elevação até o final do ano. Porém, o que
mais surpreende é que essa reversão de perspectiva está ausente do risco de
colocar em colapso o crescimento econômico mundial para 2007. Tanto é que a
última revisão do FMI colocou para cima essa perspectiva.
No cenário interno a percepção de que
as reformas estruturais não sairiam do papel, além da paralisia política, não
seriam suficientes para evitar o crescimento “a reboque” do país. Claro que a
esperança contribuiu para que, na formulação de um cenário otimista,
apostássemos na aprovação de tais reformas. Porém, a revisão dos números da
economia brasileira, feita com posse dos dados do primeiro semestre desse ano,
agora coloca a perspectiva de crescimento do PIB no patamar do cenário mais
otimista do final do ano passado, mesmo diante de ausência de reformas. Por
isso acreditamos que o crescimento é “a reboque”.
Dois elementos são essenciais para
explicar esse resultado. Em primeiro lugar a revisão da metodologia de cálculo
do PIB, feita pelo IBGE em março, e que contribuiu para deteriorar os modelos
de previsão dos economistas. Em segundo lugar os resultados dos indicadores
macroeconômicos no primeiro semestre vieram mais positivos do que o estimado. A
inflação percebida e esperada é baixa, o crédito continua a crescer a taxas
elevadas, assim como os empregos e a massa de salários. Esses fatos em conjunto
têm sido mais do que suficientes para dar sustentabilidade ao crescimento da
demanda no mercado interno. As vendas do comércio continuam positivas e em
algumas regiões do país crescem a dois dígitos. A produção de máquinas e
equipamentos e de diversos outros produtos usados para compor investimentos,
também cresce. Da mesma forma que a construção civil atravessa um de seus melhores
momentos, em especial na parte imobiliária. Por fim, outro termômetro é a
arrecadação recorde de impostos e contribuições por parte do governo federal.
Para concluir, o Banco Central passou a adotar uma postura mais branda para com
a política monetária, e os juros estão hoje, abaixo do patamar que se esperava
atingir apenas em dezembro.
Ou seja, as revisões estão sendo feitas
considerando dois pontos percentuais a menos na taxa média de juros no país.
Vale destacar que existe um chamado “efeito defasado” entre a política
monetária e o lado real da economia, e que varia de quatro a seis meses. Dessa
forma, o corte maior nos juros deve produzir impactos mais positivos a partir
do segundo semestre. Além de projetarmos juros de 10,75% ao final de 2007, duas
outras revisões chamam a atenção: a perspectiva de crescimento maior na
agropecuária, de 2,3% para 4,1%, e o melhor resultado no PIB dos serviços, de
2,7% para 4,2%. Com isso, a previsão do PIB do Brasil passa de 3,6% para 4,4%.
O Rio Grande do Sul deverá se
beneficiar desses cenários internacional e nacional positivos. Em ambos os
casos com a demanda aquecida, as exportações gaúchas foram revistas em US$ 1
bilhão para cima, com impactos positivos tanto pelo lado das vendas industriais
quanto de produtos como a soja. Após dois anos seguidos (2004-2005) de
desempenho abaixo da média de anos anteriores, e na contra-mão do país, o ano
de 2006 representou o momento de estabilidade conjuntural. A ausência de seca
permitiu que a quantidade produzida e colhida, em especial de soja, voltasse
aos patamares históricos. No ano de 2007, espera-se novo crescimento na
produção, mas com destaque para os preços recebidos que, na média, estão
melhores que os percebidos no ano passado. Na indústria, a revisão para menos se
deve ao comportamento da taxa de câmbio mais valorizada que o esperado, o que
restringe sobremaneira o desempenho do setor exportador. Por fim, na revisão do
PIB do Rio Grande do Sul, destaque para o comportamento dos serviços. Nesse
caso, tanto a intermediação financeira, as vendas do comércio quanto a
atividade imobiliária, são destaques.
Tal como colocado, a economia nacional
e regional caminha para apresentar um resultado satisfatório no ano de 2007.
Mas, que não é resultante das tímidas
mudanças estruturais ocorridas nos últimos anos.
Publicado no Informe Econômico/FIERGS
06/08/2007
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