terça-feira, 29 de julho de 2014

ECONOMIA BRASILEIRA E GAÚCHA: REVISÃO DE NÚMEROS

Desde 1999 que a FIERGS promove uma análise do cenário internacional, nacional e regional, procurando detalhar os fatores de risco e as perspectivas de desempenho para as variáveis mais importantes para a economia no ano seguinte. Ao final de 2006, os elementos que estavam postos corroboraram para a projeção de um cenário otimista para o Brasil e o Rio Grande do Sul. Os maiores fatores de risco estavam centrados no comportamento do mercado imobiliário dos EUA e os impactos que o movimento do preço do petróleo poderia ter sobre a inflação e a decisão de política montaria, tanto na economia americana quanto na Europa. Como forma de precificar esses elementos, nosso cenário pessimista considerava o aumento dos juros no cenário internacional. Desde então, essa perspectiva se modificou, e as atas do Banco Central Americano atestam a aposta de manutenção da taxa básica em 5,25%, com potencial de pequena elevação até o final do ano. Porém, o que mais surpreende é que essa reversão de perspectiva está ausente do risco de colocar em colapso o crescimento econômico mundial para 2007. Tanto é que a última revisão do FMI colocou para cima essa perspectiva.

No cenário interno a percepção de que as reformas estruturais não sairiam do papel, além da paralisia política, não seriam suficientes para evitar o crescimento “a reboque” do país. Claro que a esperança contribuiu para que, na formulação de um cenário otimista, apostássemos na aprovação de tais reformas. Porém, a revisão dos números da economia brasileira, feita com posse dos dados do primeiro semestre desse ano, agora coloca a perspectiva de crescimento do PIB no patamar do cenário mais otimista do final do ano passado, mesmo diante de ausência de reformas. Por isso acreditamos que o crescimento é “a reboque”.
Dois elementos são essenciais para explicar esse resultado. Em primeiro lugar a revisão da metodologia de cálculo do PIB, feita pelo IBGE em março, e que contribuiu para deteriorar os modelos de previsão dos economistas. Em segundo lugar os resultados dos indicadores macroeconômicos no primeiro semestre vieram mais positivos do que o estimado. A inflação percebida e esperada é baixa, o crédito continua a crescer a taxas elevadas, assim como os empregos e a massa de salários. Esses fatos em conjunto têm sido mais do que suficientes para dar sustentabilidade ao crescimento da demanda no mercado interno. As vendas do comércio continuam positivas e em algumas regiões do país crescem a dois dígitos. A produção de máquinas e equipamentos e de diversos outros produtos usados para compor investimentos, também cresce. Da mesma forma que a construção civil atravessa um de seus melhores momentos, em especial na parte imobiliária. Por fim, outro termômetro é a arrecadação recorde de impostos e contribuições por parte do governo federal. Para concluir, o Banco Central passou a adotar uma postura mais branda para com a política monetária, e os juros estão hoje, abaixo do patamar que se esperava atingir apenas em dezembro.
Ou seja, as revisões estão sendo feitas considerando dois pontos percentuais a menos na taxa média de juros no país. Vale destacar que existe um chamado “efeito defasado” entre a política monetária e o lado real da economia, e que varia de quatro a seis meses. Dessa forma, o corte maior nos juros deve produzir impactos mais positivos a partir do segundo semestre. Além de projetarmos juros de 10,75% ao final de 2007, duas outras revisões chamam a atenção: a perspectiva de crescimento maior na agropecuária, de 2,3% para 4,1%, e o melhor resultado no PIB dos serviços, de 2,7% para 4,2%. Com isso, a previsão do PIB do Brasil passa de 3,6% para 4,4%.
O Rio Grande do Sul deverá se beneficiar desses cenários internacional e nacional positivos. Em ambos os casos com a demanda aquecida, as exportações gaúchas foram revistas em US$ 1 bilhão para cima, com impactos positivos tanto pelo lado das vendas industriais quanto de produtos como a soja. Após dois anos seguidos (2004-2005) de desempenho abaixo da média de anos anteriores, e na contra-mão do país, o ano de 2006 representou o momento de estabilidade conjuntural. A ausência de seca permitiu que a quantidade produzida e colhida, em especial de soja, voltasse aos patamares históricos. No ano de 2007, espera-se novo crescimento na produção, mas com destaque para os preços recebidos que, na média, estão melhores que os percebidos no ano passado. Na indústria, a revisão para menos se deve ao comportamento da taxa de câmbio mais valorizada que o esperado, o que restringe sobremaneira o desempenho do setor exportador. Por fim, na revisão do PIB do Rio Grande do Sul, destaque para o comportamento dos serviços. Nesse caso, tanto a intermediação financeira, as vendas do comércio quanto a atividade imobiliária, são destaques.
Tal como colocado, a economia nacional e regional caminha para apresentar um resultado satisfatório no ano de 2007. Mas, que não é resultante das  tímidas mudanças estruturais ocorridas nos últimos anos.


Publicado no Informe Econômico/FIERGS 06/08/2007

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