Na década de
1950, a América Latina apresentava indicadores macroeconômicos superiores aos
verificados na região asiática: PIB per capita maior, maior investimento
privado e atração de investidores estrangeiros. Porém, a região não foi capaz
de ultrapassar as décadas seguintes sustentando essa performance e, hoje, os
países do leste asiático reverteram esse cenário. Enquanto que o PIB per capita
da América Latina chegou a encolher frente ao PIB dos EUA, nos países do leste
asiático a situação foi diferente: após anos de forte crescimento econômico, o
PIB per capita da região triplicou.
De acordo com
a teoria do crescimento econômico, diversos fatores podem explicar as
diferenças de renda entre os países; as condições iniciais, a cultura, as
tradições históricas e os recursos naturais. Recentemente, a teoria econômica
tem avançado para diversos outros temas importantes nessa análise, como por
exemplo, o ambiente para se fazer negócios, a credibilidade das instituições, a
existência de regras claras e também o nível de corrupção.
De uma forma
geral, ambas as regiões apresentam recursos naturais parecidos, preservando as
diferenças que possam existir entre alguns países, como por exemplo, a pequena
área agricultável da China, relativamente à disponibilidade de terras com
potencial agrícola no Brasil. Além disso, as tradições históricas também não
parecem ser um forte candidato para explicar as diferenças de renda. No caso da
cultura, podemos considerar a existência de assimetria em diversos aspectos
entre os povos asiáticos e os latinos. É clara a impressão de que os asiáticos
têm maior facilidade para se adaptar a novas situações de comércio e
competição, procurando extrair o máximo de benefício que o sistema capitalista
permite. Por outro lado, os diversos países latino americanos ainda questionam
os benefícios dos acordos comerciais, do investimento privado e de um Estado
menos intervencionista.
Todavia, foram
os aspectos institucionais que mais prejudicaram o desempenho da região latino
americana nas duas últimas décadas. Ao se analisar a histeria recente,
percebe-se a dificuldade dos governantes em criarem um ambiente receptivo para
os investimentos estrangeiros, seja com políticas macroeconômicas equivocadas
seja pela falta de estabilidade nas “regras do jogo”. Nesse cenário, os
investidores encontraram no leste asiático a oportunidade de conjugar menores
custos de produção com estabilidade institucional e incentivo à produção.
É claro que a
América Latina avançou em reformas importantes, como as privatizações no
Brasil, Chile e México, a adoção de políticas macroeconômicas mais estáveis,
como por exemplo o sistema de metas de inflação, e a intensificação dos acordos
comerciais, a exemplo do Chile e do México. Entretanto, essas medidas não foram
suficientes para melhorar o desempenho econômico e modificar a péssima
distribuição de renda da região. Não porque são políticas equivocadas, mas sim
porque não foram devidamente complementadas com a criação de regras claras de
relação entre setor público e privado. Em alguns países é possível inclusive
notar um retrocesso na política econômica, com a maior intervenção dos governos
no mercado, recusa em aumentar os acordos comerciais com países
industrializados e políticas populistas de combate à pobreza, a exemplo da
Venezuela, da Bolívia e da Argentina.
Há um fator importante a ser considerado
nessa análise: a integração econômica e comercial com outros países. Enquanto a
América Latina ainda discute se é bom ou não intensificar as relações
comerciais com outros países, o leste Asiático avançou a passos largos em
direção a uma maior abertura comercial. Em 2000, as exportações totais da América
Latina representavam apenas 5,5% do total exportado no mundo, mesmo nível que o
observado em 1980. Para o mesmo período, as exportações da Ásia mais do que
dobraram, passando de 8% de participação para cerca de 20%. Além disso, a
região asiática tem mostrado um maior nível de comércio intra-indústria, medido
a partir da relação entre o comércio de mercadorias e o valor adicionado. Isso
explica a crescente participação e especialização da região nas cadeias de
produção globais.
A nova ordem
global não deverá perdoar os países que não se ajustarem a um cenário onde a internet e a redução dos custos de
transporte e de comunicação têm contribuído para aumentar a produtividade das
empresas e, de tabela, a competição. Na América Latina, o Chile já entendeu o
recado, assim como o México.Entretanto, parece que a cultura asiática tem se
revelado mais eficaz em assimilar essa modificação, em especial em Cingapura,
China e Índia. Se a América Latina, em especial o Brasil, não quiser ficar para
trás nessa nova ordem mundial que tem realocado investimentos produtivos em uma
escala sem precedentes, é necessário que os governos locais façam a lição de
casa. É preciso criar um ambiente mais
propício para investimentos privados e alocar recursos que resultem em redução
dos custos de transporte e comercialização. Esperamos que nesse ano eleitoral
esse recado não seja novamente adiado, ou esquecido.
Publicado no Informe Econômico/FIERGS
19/06/2006
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