Em recente
relatório que aborda os aspectos macroeconômicos que cercam o cenário
internacional (World Economic Outlook),
o FMI chama a atenção para diversos fatores importantes que podem
desestabilizar o crescimento econômico mundial. Após dois anos de bom
desempenho no PIB, a previsão é que esse seja mantido para o próximo biênio, a
despeito dos desequilíbrios nas contas externas de alguns países, em especial
os EUA, da evolução do preço dos imóveis nas economias industrializadas e da
mudança de nível no preço do petróleo.
No caso do
preço do petróleo, apesar da alta volatilidade e dos riscos associados no
ambiente político na República Islâmica do Irã e dos conflitos na Nigéria que
limitam a oferta do produto, os impactos dessa evolução tem sido, até então,
menores do que o observado em momentos anteriores, principalmente no que diz
respeito ao comportamento dos índices de preços nas economias desenvolvidas.
Isso é particularmente importante, pois resulta em uma menor necessidade de
aumento dos juros de curto prazo nos países desenvolvidos para conter a evolução
dos preços, o que garante a continuidade do crescimento. Em todo caso, os
riscos de contaminação do nível de preços gerais da economia perduram, dado que
o mercado futuro projeta a manutenção do atual patamar do preço do petróleo no
futuro.
O continuado
déficit em conta corrente nos EUA continua a ser apontado como um problema
conjuntural importante para a engrenagem do crescimento mundial. Por ora, o
país encontra facilidades para financiar esses déficits, parte com os chamados
“petrodólares” e parte com recursos em reserva de países asiáticos (somente a
China possui reservas da ordem de US$ 850 bilhões, boa parte dos quais alocados
em títulos de dívida do governo americano). É importante ressaltar que essa
fonte de financiamento tem contribuído para conter a taxa de juros de longo
prazo, de tal forma que a curva de juros tem adquirido uma característica mais
“flat”, ou seja, os juros esperados
para o futuro estão próximos aos juros presentes.
Vários
estudos sinalizam que a curva de juros é um indicador antecedente da atividade
econômica nos EUA, ou seja, seu comportamento presente contribui para explicar
parte do desempenho da economia no futuro. Mesmo que essa influência tenha se
reduzido desde a década de 1980, na medida em que os juros de curto prazo
passaram a ser menores, seus efeitos sobre a economia ainda se fazem presentes.
Os resultados apontam que quanto mais “flat”
é a curva de juros hoje, maiores são as probabilidades de um menor crescimento
econômico em períodos mais á frente, ou seja, por esse indicador, haveria a
perspectiva de uma desaceleração do crescimento no futuro próximo. Felizmente,
esse não é o único indicador antecedente da economia, outros como o mercado de
ativos e os spreads no crédito, não
sinalizam no sentido de um recuo na atividade econômica americana para os
próximos meses.
Vale destacar
que a percepção conjuntural de queda na taxa de crescimento do PIB dos EUA foi
reforçada após o baixo desempenho do quarto trimestre do ano passado. Porém, há
conflito entre os indicadores. Se por um lado alguns apontam desaceleração,
outros dão suporte à percepção de crescimento. A produção industrial, por
exemplo, continua a mostrar indicadores consistentes, há crescimento nos
pedidos de bens de capital e no emprego e o índice de confiança do consumidor
retomou patamares pré efeitos do furacão Katrina. Nesse cenário de manutenção
do crescimento econômico, e na ausência de um ajuste fiscal do governo, as
projeções são de que o déficit em conta corrente dos EUA continue elevado no
próximo biênio, com 6,5% do PIB em 2006 e 2007.
Outra
variável de risco é o preço dos imóveis. Depois de uma rápida evolução nos
últimos anos, a taxa de crescimento do preço dos imóveis nos EUA parece ter se
estabilizado ao redor de 13%, assim como o nível de atividade no setor. Como os
imóveis representam um ativo importante na riqueza do americano (o sistema de
financiamento do país permite que sejam feitas operações financeiras com esse
ativo de tal forma a converter a riqueza futura em presente), e tem implicações
importantes do ponto de vista da atividade econômica, em especial no mercado de
trabalho, é importante deixar claro que, apesar da necessidade de contenção da
evolução desses preços, o processo de ajuste deve ocorrer de forma lenta e
gradual, evitando sobressaltos que possam representar uma queda na percepção de
riqueza do consumidor americano. Ressalta-se que não é apenas nos EUA que os
imóveis apresentam uma forte evolução nos preços, esse comportamento também foi
verificado nos últimos anos na Espanha, Reino Unido e Irlanda.
Em síntese, o céu de
brigadeiro pelo qual passa a economia mundial parece dar mostras de
continuidade pelo próximo biênio. Os riscos de rompimento dessa engrenagem
estão concentrados em uma evolução abrupta do preço do petróleo, que está
relacionado com o desfecho das negociações diplomáticas no Irã; da
possibilidade de rompimento da bolha no preço dos imóveis; do ajuste das contas
externas americanas e do processo de mudança de regime cambial na China. Vale
destacar que esses riscos não são novidade nas mesas de discussão do G7, mas
reconhece-se a necessidade de um ajuste gradual, como forma de preservar o
cenário de crescimento projetado.
Publicado no Informe
Econômico/FIERGS 08/05/2006
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