Basta não pagar a dívida. Em
primeiro lugar, essa se faz representar junto ao público brasileiro sob a forma
de títulos indexados a diversos tipos de correção, sendo os principais selic, câmbio e índices de preços e,
nesse conjunto de poupadores estão todos os investidores, independente da
renda, banco ou tipo de aplicação onde estão os recursos. Dessa forma, não
pagar a dívida representa que o governo não pretende honrar seus compromissos
com a sociedade. Deixando de lado os aspectos contratuais, as implicações
econômicas seriam perversas, com o setor público não tendo mais credibilidade
no futuro para conseguir recursos emprestados ou então tendo que pagar juros
maiores para compensar o risco de uma nova moratória. Essa é justamente uma das
variáveis que compõem atualmente a elevada taxa de juros no Brasil, a sociedade
confia pouco na instituição governo, por isso que tem preferência pela liquidez
(empresta a curto prazo), e cobra um prêmio pelo risco de default (calote).
Emitir moeda e pagar parte
da dívida. É verdade que o governo pode fazer isso, o que os economistas chamam
de “monetizar” a dívida, porém, se por um lado respeitam-se os contratos, por
outro essa estratégia estaria criando as condições para um aumento generalizado
de preços. Uma injeção de moeda na economia acima do que a sociedade demanda,
terá como resultado certo uma pressão nos níveis de preços. E isso não é
verdade apenas no Brasil, mas em qualquer economia e em qualquer estágio de
desenvolvimento. Vale destacar que controlar os agregados monetários faz parte
da política de ajuste fino por parte do Banco Central. Ainda assim, mesmo que
se escolha utilizar esta estratégia de forma paulatina, procurando não gerar
choques, é importante ressaltar a grande dificuldade que se tem de prever o
comportamento da demanda por moeda, o que potencializa o risco de erro.
Reduzir a taxa de juros de
uma única vez à metade. Essa estratégia tem como resultado ou a monetização da
dívida ou então o default. Se o governo escolhe pagar juros que representam a
metade do que está vigente no momento de rolar essa dívida, o investidor irá,
inevitavelmente comparar o rendimento dos título públicos com os privados, e irá
escolher ativos que ofereçam rendimentos mais atrativos, como taxa de câmbio,
debêntures, ações, CDB, ouro, imóveis e etc. Tal como a lei da oferta e
demanda, a escolha do investidor terá como resultado um aumento do preço de
todos os demais ativos da economia, produzindo o mesmo efeito da monetização.
Portanto, não há mágica
nesse processo, e a receita é clara e bastante conhecida: o governo deve gastar
menos e melhor, ou seja, os superávits primários devem continuar para não
apenas reduzir a parcela de dívida sobre o PIB, mas também as taxas de juros.
Desde 1998 apenas o Tesouro Nacional teve um superávit acumulado, em termos
nominais, de R$ 250 bilhões. Esse é o montante equivalente de juros da dívida
que estavam vencendo e foram pagos, evitando que os mesmos fossem incorporados
em nova dívida. Se supormos, a título de ilustração, que o superávit primário
fosse zero em cada um desses 96 meses então, para cada vencimento de juros, sem
recursos em caixa para pagar, o governo deveria emitir novos títulos e incorpora
os juros que estavam vencendo em nova dívida. Supondo que a selic não se modifica (na verdade
deveria ser maior devido a perda de credibilidade do governo junto aos
investidores com o aumento da dívida), essa nova dívida evolui pela selic. Com
isso, a Dívida Líquida do Setor Público ao final de 2005 não seria de 51,6% do
PIB, como anunciado, mas sim de 75,2% do PIB, cerca de R$ 450 bilhões a mais.
É desnecessário dizer que o esforço para controlar
essa dívida seria muito maior do que o atual, e provavelmente a economia
brasileira já teria caminhado para um cenário de inflação elevada. A se manter
um crescimento de apenas 3% do PIB, inflação de 6%, juros nominais de 14% ao
ano e um superávit primário de 4,25% do PIB, a DLSP poderá cair para 38% do PIB
em 2010, o que abre espaço para reduções significativas na taxa de juros. Então
poderemos olhar para 2005 e dizer, ainda bem que foi feito superávit primário
naquele ano.
Publicado no Informe Econômico/FIERGS 06/02/2006
Nenhum comentário:
Postar um comentário