domingo, 27 de julho de 2014

A PALAVRA CHAVE É PRODUTIVIDADE

A produtividade é uma variável chave para a economia, seja do ponto de vista de implicações no curto prazo ou no longo prazo. No primeiro caso, por exemplo, é determinante para evitar que o crescimento econômico resulte em pressões inflacionárias. Por outro lado, no longo prazo, o aumento da produtividade garante a melhora no padrão de vida da população, resulta em aumento do salário real e em aumento da competitividade das empresas locais. Sendo assim, podemos afirmar que a riqueza de uma nação está diretamente relacionada à sua capacidade de ser produtiva. Além do mais, a produtividade é um elemento chave para a determinação do desenvolvimento econômico.
Porém, muito mais do que um simples número, a medida de produtividade representa tanto um resultado individual quanto uma relação entre diversas variáveis econômicas. De uma forma geral, há basicamente três componentes que devem ser analisados para se compreender a produtividade: a qualidade do trabalhador – ou seja, quanto mais treinado, experiente ou educado for a mão-de-obra de um país ou empresa, mais produtivo ele será; a disponibilidade de máquinas e ferramentas – significa que quanto mais eficiente for o equipamento disponível e mais tecnologia tiver incorporada, mais produtivo poderá ser a empresa ou um país; e, por fim, a produtividade total dos fatores (TFP), ou seja, o efeito que a melhora no ambiente institucional, a redução da burocracia, do processo de comercialização de produtos e o uso eficiente dos recursos têm sobre a economia, tornando-a mais produtiva.
Assim, em outras palavras, se queremos tornar um país mais produtivo, devemos ter trabalhadores mais eficientes, educados e treinados, melhores máquinas, uma boa organização para o ambiente de negócios e, fundamentalmente, que seja possível alocar de forma eficiente esses recursos para as empresas. Durante a década de 1990, período no qual a economia americana experimentou o seu maior ciclo de crescimento do PIB, os investimentos em bens de capital (máquinas e equipamentos), e o uso de novas tecnologias, constituíram as bases do aumento da produtividade nas empresas. Porém, a partir de 2003, a maior contribuição para o crescimento da produtividade no país deixou de ser o investimento em bens de capital, e muito menos foi a melhora na qualidade da mão-de-obra, fator esse que já apresenta um elevado nível nos EUA. Tal fonte de produtividade esteve centrada na redução dos entraves para que as empresas tivessem acesso às novas tecnologias que foram desenvolvidas durante a década passada.
Ou seja, a economia americana, que já dispunha de capital humano treinado e uma oferta de máquinas e equipamentos de alta tecnologia, passou a tirar proveito desses recursos a partir do terceiro elo dessa cadeia: a criação de um ambiente de negócios que facilitasse o acesso e incorporação dessa tecnologia nas empresas. Novos métodos de gestão, controle e logística, permitiram ganhos de produtividade substanciais para as empresas, mesmo em um ambiente em que o custo do trabalho se mantém elevado em termos relativos, característica comum de países desenvolvidos.
Ressalta-se que foi justamente o “boom” de investimentos em telecomunicações que ocorreu no período pré 2001, quando estourou a bolha das ações de tecnologia no país, o fator de alicerce para esse desenvolvimento. Os elevados investimentos em fibra ótica e em novos aparelhos de telecomunicação e softwares, permitiram a redução dos custos de comunicação e de aquisição dessa tecnologia. Os exemplos de sua utilização são diversos. As companhias de aviação incorporaram os serviços de check-in eletrônico ao estilo “self-service”, e obtiveram ganhos elevados de produtividade no atendimento aos clientes. As empresas de transportes incorporaram a tecnologia do GPS e dos telefones “wireless” para melhorar a eficiência logística, controlando, em tempo real, suas frotas. Como resultado, tem-se o barateamento dos custos de transporte. As lojas de departamento investiram no controle de estoque eletrônico, reduzindo custos operacionais e erros contábeis. 
Um outro aspecto importante a destacar, nesse cenário é o tempo necessário para que esses fatores ocorram. Há três etapas a serem vencidas. Primeiro tem-se o período de pesquisa, experimentos e testes. A seguir, o processo de comercialização, que ocorre, em sua grande maioria, num período não menor do que uma década. Por fim, há o momento em que essa tecnologia passa a ser difundida, ou seja, torna-se acessível para a grande maioria das empresas. Nos EUA, foram necessários 56 anos entre o momento de invenção e difusão do telefone mas, apenas 14 anos para o telefone móvel.
A magnitude e a velocidade em que o desenvolvimento tecnológico tem ocorrido no mundo, pode ser um aliado ou não, de países em desenvolvimento. Nesse cenário, é muito importante que o governo contribua para que as empresas tenham acesso a essas novas tecnologias, criando um ambiente propício aos negócios.


Publicado no Informe Econômico/FIERGS 21/08/2006

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