Os
últimos dados referentes à Balança de Pagamentos do Brasil levantaram a
opiniões diversas de analistas econômicos. Alguns otimistas com o fato do envio
de rendas ao exterior mostrar resultado “menos pior” que o esperado, outros
ainda pessimistas com tamanho déficit nas transações com o resto do mundo.
Há
duas importantes fontes de desequilíbrio no setor externo que devem ser melhor
entendidas. A primeira está relacionada à perda de dinamismo na receita com
exportações e, a segunda, naturalmente, com importações.
Não sou contra exportar commodity.
Se soubéssemos otimizar esse recurso tal como o fazem o Chile, Noruega,
Austrália e tantos outros países que também são dependentes das exportações de
commodities, estaríamos certamente em outro patamar de desenvolvimento. O
problema aqui é ver que um País com tanta riqueza está concentrando a receita
de exportação em apenas dois produtos. De 2004 até 2013 as exportações de
Minério de Ferro passaram de US$ 4,7 bilhões para US$ 32,5 bilhões, aumentando
sua participação na pauta de básicos de 16% para 29%. O mesmo aconteceu com as
exportações de soja, hoje atualmente em US$ 22,8 bilhões e representando 21% do
total de básicos. O que acontece com os outros produtos onde o Brasil é líder
como a Carne e Suco de Laranja ou então em vários outros manufaturados? A explicação comum seria perda de dinamismo
ou, usando um nome mais bonito, competitividade. E essa se manifesta de maneira
mais perversa quanto maior for a cadeia produtiva e mais precisamos de
trabalhadores e de infraestrutura, fatores onde o País tem enormes deficiências.
Podemos até recuperar parte dessa com um câmbio mais competitivo, mas não é
estrutural.
De
outro lado, o comportamento dos produtos e serviços que compramos do exterior
revela nossa fragilidade e falta de planejamento. A que mais salta aos olhos é
o aumento das importações de combustíveis e lubrificantes. De meros US$ 10
bilhões em 2003 no ano passado foram US$ 40 bilhões e continua a aumentar.
Nesse caso, de nada adianta ter petróleo, é capacidade de processamento em um
cenário onde é mais fácil incentivar o consumo de veículos sem se preocupar com
o que faz ele se movimentar.
Outro
item interessante são os gastos com viagens ao exterior. Mesmo um câmbio cerca
de 10% mais desvalorizado em relação ao mesmo período do ano passado, o
brasileiro continua a gastar somas elevadas em viagens internacionais. Dos US$
25 bilhões dos últimos doze meses, US$ 18 bilhões é com turismo e reflete sim o
aumento da renda aqui, mas também que o País continua caro, não só em termos de
serviços, mas também de produtos. Já o estrangeiro gasta pouco no Brasil no
item turismo, apenas US$ 4 bilhões e certamente não será o evento Copa que irá
mudar esses números.
Os
economistas sabem que correção de desequilíbrios no Balanço de Pagamentos leva
tempo e, normalmente, produzem impactos negativos em outras variáveis como
inflação e crescimento, principalmente no curto prazo. Dado o custo político dessa mudança, o mesmo
pode não ocorrer em 2014, mas será que o que vem de fora não irá atingir nossa
economia no ano vindouro?
Publicado em Abril de 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário