terça-feira, 12 de agosto de 2014

O que é de fora não me atinge

            Os últimos dados referentes à Balança de Pagamentos do Brasil levantaram a opiniões diversas de analistas econômicos. Alguns otimistas com o fato do envio de rendas ao exterior mostrar resultado “menos pior” que o esperado, outros ainda pessimistas com tamanho déficit nas transações com o resto do mundo.
Há duas importantes fontes de desequilíbrio no setor externo que devem ser melhor entendidas. A primeira está relacionada à perda de dinamismo na receita com exportações e, a segunda, naturalmente, com importações.

                Não sou contra exportar commodity. Se soubéssemos otimizar esse recurso tal como o fazem o Chile, Noruega, Austrália e tantos outros países que também são dependentes das exportações de commodities, estaríamos certamente em outro patamar de desenvolvimento. O problema aqui é ver que um País com tanta riqueza está concentrando a receita de exportação em apenas dois produtos. De 2004 até 2013 as exportações de Minério de Ferro passaram de US$ 4,7 bilhões para US$ 32,5 bilhões, aumentando sua participação na pauta de básicos de 16% para 29%. O mesmo aconteceu com as exportações de soja, hoje atualmente em US$ 22,8 bilhões e representando 21% do total de básicos. O que acontece com os outros produtos onde o Brasil é líder como a Carne e Suco de Laranja ou então em vários outros manufaturados?  A explicação comum seria perda de dinamismo ou, usando um nome mais bonito, competitividade. E essa se manifesta de maneira mais perversa quanto maior for a cadeia produtiva e mais precisamos de trabalhadores e de infraestrutura, fatores onde o País tem enormes deficiências. Podemos até recuperar parte dessa com um câmbio mais competitivo, mas não é estrutural.
                De outro lado, o comportamento dos produtos e serviços que compramos do exterior revela nossa fragilidade e falta de planejamento. A que mais salta aos olhos é o aumento das importações de combustíveis e lubrificantes. De meros US$ 10 bilhões em 2003 no ano passado foram US$ 40 bilhões e continua a aumentar. Nesse caso, de nada adianta ter petróleo, é capacidade de processamento em um cenário onde é mais fácil incentivar o consumo de veículos sem se preocupar com o que faz ele se movimentar.
                Outro item interessante são os gastos com viagens ao exterior. Mesmo um câmbio cerca de 10% mais desvalorizado em relação ao mesmo período do ano passado, o brasileiro continua a gastar somas elevadas em viagens internacionais. Dos US$ 25 bilhões dos últimos doze meses, US$ 18 bilhões é com turismo e reflete sim o aumento da renda aqui, mas também que o País continua caro, não só em termos de serviços, mas também de produtos. Já o estrangeiro gasta pouco no Brasil no item turismo, apenas US$ 4 bilhões e certamente não será o evento Copa que irá mudar esses números.
                Os economistas sabem que correção de desequilíbrios no Balanço de Pagamentos leva tempo e, normalmente, produzem impactos negativos em outras variáveis como inflação e crescimento, principalmente no curto prazo.  Dado o custo político dessa mudança, o mesmo pode não ocorrer em 2014, mas será que o que vem de fora não irá atingir nossa economia no ano vindouro?


Publicado em Abril de 2014

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