Que a
atividade econômica no Brasil está mais baixa, o mercado de trabalho não evolui
da forma generosa que anteriormente, quando as estatísticas se beneficiaram do
processo de formalização do emprego, e que os níveis de confiança de
consumidores e empresários estão lá em baixo, tal qual os investimentos, não é
novidade para analistas, desde que não estejam institucionalmente
comprometidos. Nesse caso, qual seria a dificuldade em afirmar que estamos em
recessão?
Talvez por ser ano eleitoral e
isso soar como um discurso oportunista. Ou então porque, como é a crença
popular, a recessão só é configurada quando se tem dois trimestres consecutivos
de queda no PIB. Ou ainda, porque não juntamos a peça do quebra-cabeça de
economia. Arrisco afirmar que é um pouco de tudo isso. Alguns analistas
preferem não tocar no termo, que tem o poder de gerar mais expectativa
negativa. Outros porque acreditam mesmo nessa crença popular e
talvez emitam opinião apenas depois que o Papai Noel deixar os presentes na
lareira. Me encaixo no terceiro grupo e me redimo com o leitor nesse momento,
após ter completado a junção de peças.
Afinal,
que peças são essas? Para dar sustentação técnica e também acadêmica, faço uso
de conceitos consagrados na literatura internacional que trata do tema, também
conhecido como “ciclo dos negócios”. Há vários institutos espalhados pelo mundo
que aplicam técnicas para identificar o
momento em que uma economia ou setor está entrando, saindo ou se encontra em
recessão. O mais conhecido e respeitado nos EUA é o NBER—National Bureau of
Economic Analyis que, a partir da avaliação de um conjunto de indicadores
emite opinião sobre o estado da economia. Usando esse procedimento para dados
do Brasil, podemos afirmar que, como a indústria, vendas do comércio, renda
real e emprego estão desacelerando há meses, seria natural afirmar que o país
está em recessão. Mas, vamos consolidar melhor esse conceito usando a
metodologia da OCDE que divulga, desde a década de 1970, para todos os 33
países membros mais outros que não são membros, como o Brasil, um indicador que
auxilia na antecipação dos momentos recessivos. De nome CLI o mesmo é composto
de uma cesta de diversas variáveis e é construído para oscilar em torno de 100.
Acima desse valor é um sinal que o país está produzindo mais que o potencial.
Os dados para Brasil mostram que o último resultado (98,5) pode ser entendido
como um momento no qual estamos produzindo menos que a capacidade, cenário que
já dura 13 meses. E mais, com tendência de queda o que, segundo a metodologia,
reforça a percepção de recessão. Se a notícia já seria ruim por si só, imagina
então termos que escutar, nesse momento, que esse é um indicador antecedente,
que mede o comportamento da economia para um horizonte de 6-9 meses e que,
dessa forma, o mesmo está sinalizando que nesse período a frente, ainda
estaremos em terreno negativo. O PIB do segundo trimestre será divulgado apenas
no final de agosto, pouco mais de um mês antes da eleição. É quase consenso
entre analistas que terá queda em relação ao primeiro trimestre. Será que mais
pessoas irão se convencer?
Publicado
em julho de 2014
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