terça-feira, 12 de agosto de 2014

Estamos em recessão!

          Que a atividade econômica no Brasil está mais baixa, o mercado de trabalho não evolui da forma generosa que anteriormente, quando as estatísticas se beneficiaram do processo de formalização do emprego, e que os níveis de confiança de consumidores e empresários estão lá em baixo, tal qual os investimentos, não é novidade para analistas, desde que não estejam institucionalmente comprometidos. Nesse caso, qual seria a dificuldade em afirmar que estamos em recessão?
                Talvez por ser ano eleitoral e isso soar como um discurso oportunista. Ou então porque, como é a crença popular, a recessão só é configurada quando se tem dois trimestres consecutivos de queda no PIB. Ou ainda, porque não juntamos a peça do quebra-cabeça de economia. Arrisco afirmar que é um pouco de tudo isso. Alguns analistas preferem não tocar no termo, que tem o poder de gerar mais expectativa negativa. Outros porque acreditam mesmo nessa crença popular e talvez emitam opinião apenas depois que o Papai Noel deixar os presentes na lareira. Me encaixo no terceiro grupo e me redimo com o leitor nesse momento, após ter completado a junção de peças.

                Afinal, que peças são essas? Para dar sustentação técnica e também acadêmica, faço uso de conceitos consagrados na literatura internacional que trata do tema, também conhecido como “ciclo dos negócios”. Há vários institutos espalhados pelo mundo que aplicam técnicas  para identificar o momento em que uma economia ou setor está entrando, saindo ou se encontra em recessão. O mais conhecido e respeitado nos EUA é o NBER—National Bureau of Economic Analyis que, a partir da avaliação de um conjunto de indicadores emite opinião sobre o estado da economia. Usando esse procedimento para dados do Brasil, podemos afirmar que, como a indústria, vendas do comércio, renda real e emprego estão desacelerando há meses, seria natural afirmar que o país está em recessão. Mas, vamos consolidar melhor esse conceito usando a metodologia da OCDE que divulga, desde a década de 1970, para todos os 33 países membros mais outros que não são membros, como o Brasil, um indicador que auxilia na antecipação dos momentos recessivos. De nome CLI o mesmo é composto de uma cesta de diversas variáveis e é construído para oscilar em torno de 100. Acima desse valor é um sinal que o país está produzindo mais que o potencial. Os dados para Brasil mostram que o último resultado (98,5) pode ser entendido como um momento no qual estamos produzindo menos que a capacidade, cenário que já dura 13 meses. E mais, com tendência de queda o que, segundo a metodologia, reforça a percepção de recessão. Se a notícia já seria ruim por si só, imagina então termos que escutar, nesse momento, que esse é um indicador antecedente, que mede o comportamento da economia para um horizonte de 6-9 meses e que, dessa forma, o mesmo está sinalizando que nesse período a frente, ainda estaremos em terreno negativo. O PIB do segundo trimestre será divulgado apenas no final de agosto, pouco mais de um mês antes da eleição. É quase consenso entre analistas que terá queda em relação ao primeiro trimestre. Será que mais pessoas irão se convencer?

Publicado em julho de 2014

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