terça-feira, 12 de agosto de 2014

E o câmbio?

             A taxa de câmbio continuou a ser uma das variáveis mais importantes no acompanhamento do cenário econômico brasileiro durante o mês de setembro. A despeito do forte recuo da cotação, de R$/US$ 2,39 para R$/US$ 2,20, na esteira das ações do Banco Central do Brasil e da dissipação com as incertezas sobre a mudança de política monetária nos Estados Unidos, o fato é que, do ponto de vista estrutural, ainda persistem desequilíbrios importantes, e que pode resultar em volatilidade nos meses seguintes.
                Um desses desequilíbrios pode ser visualizado nos dados do Balanço de Pagamentos onde o déficit em conta corrente, a diferença entre o que enviamos do que captamos de dólares com o exterior pela via comercial e de serviços, continuou a dar sinais de deterioração. No acumulado dos oito primeiros meses do ano atingiu os 4% do PIB, US$ 58 bilhões, contra 2,1% verificados para o mesmo período de 2012, um nível considerado elevado, mesmo para os nossos padrões históricos brasileiros.

                Vale destacar que não é a existência do déficit em si que preocupa isso porque é natural verificar o mesmo em países emergentes. Além disso, as reservas são elevadas, cerca de US$ 367 bilhões, e o fluxo dos Investimentos Diretos continua a financiar parte significativa desse, foram US$ 43,8 bilhões entre janeiro e agosto de 2013, um pouco abaixo dos US$ 45,9 bilhões no mesmo período de 2012. O problema está em sua magnitude e composição.
                Como se sabe, mesmo com desvalorização da moeda, um elemento que pode contribuir para reduzir esse resultado deficitário, esse impacto ocorre de forma lenta. Reduzir o déficit em conta corrente para patamares ao redor de 2% a 3% do PIB ainda irá consumir pouco mais de um ano, e demandará esforços seja pela via de exportação ou importação. No primeiro caso dependemos de como se comporta a economia dos países que compram produtos brasileiros e, no segundo, o ajuste é um pouco mais complicado, uma vez que boa parte das importações é de matéria-prima e de bens de capital.
                Até lá, é muito importante manter a sinalização positiva a investidores estrangeiros para que o fluxo de capitais permita que o país faça um ajuste suave das contas externas. É nesse ponto que programas como o de concessões para investimentos em projetos de infraestrutura devem ser bem desenhados.
O movimento recente da taxa de câmbio reflete, dentre outros aspectos de incerteza de investidores, elementos estruturais importantes de desequilíbrio macroeconômico.


Publicado em setembro de 2013

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