segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Commodities: o preço deve continuar alto.

Alguns sinais de mudança do cenário macroeconômico internacional e nacional começam a delinear importantes fatores de risco para a manutenção de um crescimento econômico mais consistente no Brasil. Em primeiro lugar os menores saldos comerciais, na esteira de uma taxa de expansão mais acentuada das importações vis-a-vis a um resultado mais modesto pelo lado das exportações. E, em segundo lugar, a taxa de inflação ao produtor e ao consumidor, que tem permeado os diversos relatórios de mercado, sinalizando a continuação do aperto monetário.
Esses dois movimentos encontram uma relação estreita, apesar de não ser tão clara, que é o elevado preço de várias commodities no cenário internacional. Se por um lado, um patamar de preços mais elevado gera mais divisas para a balança de pagamentos via exportação, por outro, representa um choque de oferta na inflação, na medida que o consumidor brasileiro paga o preço internacional. De qualquer maneira, entender esse cenário passou a ter maior importância para os analistas de mercados emergentes, em especial para o Brasil, que se coloca no grupo dos principais exportadores do produto.

Um recente estudo elaborado pelo FMI aponta os principais motivos que colocaram o preço das commodities em patamares tão elevados e o quê esperar para os próximos anos. Em primeiro lugar, o conhecido aumento da demanda, que deveu-se, dentre outros fatores, ao rápido processo de urbanização, crescimento populacional e também a industrialização nos países emergentes, em especial na China, Índia e no Leste Europeu. Tudo em um espaço curto de seis anos. Além disso, a maior renda per capita, conjugado com esses fatores, gerou mais demanda por diversos bens, desde os de primeira necessidade, como os relacionados à alimentação, até aqueles classificados como de luxo. Como essa rápida expansão da demanda não foi acompanhada pela correspondente oferta, coube aos preços se encarregar de promover o equilíbrio. Porém, mesmo diante do aumento de preços, a demanda parece não arrefecer. O motivo é que as commodities apresentam uma elasticidade preço-demanda baixa. Ou, dito de outra forma, aumentos de preços têm pequeno poder de mudar o comportamento da demanda pelo bem em questão, resultado esse que vale para o petróleo, milho, metais e etc.
Ressalta-se também que os impactos de preços sobre as diversas economias possui três importantes desdobramentos: o efeito-renda, como assinalado anteriormente, o efeito-substituição e também o efeito-indireto. Especificamente, nos itens relacionados à alimentação, é onde se detectam os maiores impactos do efeito substituição e indireto, principalmente depois que outros países resolveram se engajar no projeto de biocombustíveis. Destaca-se que esse movimento não dá sinais de que será revertido no curto prazo em uma sociedade cada vez mais exigente com controles sobre o meio-ambiente e ávida por reduzir a dependência do petróleo. Também contribui para essa percepção as metas de ampliar o consumo de biocombustíveis nos EUA para 35 bilhões de galões até 2022 e da União Européia, que determina que 10% dos combustíveis para transporte, até 2020, sejam de origem dos biocombustíveis.
Preços de produtos básicos mais elevados também representam maiores custos de produção de derivados, como óleo de soja, pão, ração, fertilizantes e etc. Portanto, os efeitos indiretos tiveram o papel de disseminar, nos últimos anos, a elevação do preço das commodities para diversos outros mercados. Esse movimento também ocorre entre o petróleo e o aumento de custos de insumos agrícolas e metais, como alumínio. Até os bens substitutos experimentam aumentos de preços, como a borracha natural, na esteira do maior custo de produção da borracha sintética, e o carvão, que tem sido utilizado em larga escala para substituir a geração de energia via petróleo, que é mais cara, em especial na China.
Por fim, tem-se o fator financeiro. Na medida em que os contratos de negociação de commodities foram incorporando as sofisticações financeiras dos demais ativos, e se disseminaram entre os investidores, transacionar derivativos desses produtos passou a ser visto como um investimento que pode diversificar riscos e, além disso, render bons resultados para a carteira de clientes de bancos de investimento e fundos de hedge. Com a queda dos juros básicos em economias desenvolvidas, e o enfraquecimento do dólar frente as principais moedas, diversos investidores lançaram-se, nos últimos anos, na busca por retornos mais satisfatórios, e o mercado de commodities apresenta bons atrativos.
Diante dos fatores apontados como determinantes do atual preço das commodities, é de se esperar que os mesmos continuem pressionados, com oscilações características de um período de turbulência. De um lado, uma boa notícia para a balança comercial brasileira, que voltou a ter nesses preços, um importante aliado no processo de geração de superávits. Por outro, há que se considerar os impactos inflacionários. Porém, como a expectativa é de manutenção do patamar e não de contínua expansão dos preços, uma futura acomodação da inflação nos alimentos pode acontecer.
Publicado no Informe Econômico de 22/04/2008


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