Alguns sinais de mudança do
cenário macroeconômico internacional e nacional começam a delinear importantes
fatores de risco para a manutenção de um crescimento econômico mais consistente
no Brasil. Em primeiro lugar os menores saldos comerciais, na esteira de uma
taxa de expansão mais acentuada das importações vis-a-vis a um resultado mais
modesto pelo lado das exportações. E, em segundo lugar, a taxa de inflação ao
produtor e ao consumidor, que tem permeado os diversos relatórios de mercado,
sinalizando a continuação do aperto monetário.
Esses dois movimentos
encontram uma relação estreita, apesar de não ser tão clara, que é o elevado
preço de várias commodities no
cenário internacional. Se por um lado, um patamar de preços mais elevado gera
mais divisas para a balança de pagamentos via exportação, por outro, representa
um choque de oferta na inflação, na medida que o consumidor brasileiro paga o
preço internacional. De qualquer maneira, entender esse cenário passou a ter
maior importância para os analistas de mercados emergentes, em especial para o
Brasil, que se coloca no grupo dos principais exportadores do produto.
Um recente estudo elaborado
pelo FMI aponta os principais motivos que colocaram o preço das commodities em patamares tão elevados e
o quê esperar para os próximos anos. Em primeiro lugar, o conhecido aumento da
demanda, que deveu-se, dentre outros fatores, ao rápido processo de
urbanização, crescimento populacional e também a industrialização nos países
emergentes, em especial na China, Índia e no Leste Europeu. Tudo em um espaço
curto de seis anos. Além disso, a maior renda per capita, conjugado com esses
fatores, gerou mais demanda por diversos bens, desde os de primeira
necessidade, como os relacionados à alimentação, até aqueles classificados como
de luxo. Como essa rápida expansão da demanda não foi acompanhada pela
correspondente oferta, coube aos preços se encarregar de promover o equilíbrio.
Porém, mesmo diante do aumento de preços, a demanda parece não arrefecer. O
motivo é que as commodities
apresentam uma elasticidade preço-demanda baixa. Ou, dito de outra forma,
aumentos de preços têm pequeno poder de mudar o comportamento da demanda pelo
bem em questão, resultado esse que vale para o petróleo, milho, metais e etc.
Ressalta-se também que os
impactos de preços sobre as diversas economias possui três importantes
desdobramentos: o efeito-renda, como assinalado anteriormente, o
efeito-substituição e também o efeito-indireto. Especificamente, nos itens
relacionados à alimentação, é onde se detectam os maiores impactos do efeito
substituição e indireto, principalmente depois que outros países resolveram se
engajar no projeto de biocombustíveis. Destaca-se que esse movimento não dá
sinais de que será revertido no curto prazo em uma sociedade cada vez mais
exigente com controles sobre o meio-ambiente e ávida por reduzir a dependência
do petróleo. Também contribui para essa percepção as metas de ampliar o consumo
de biocombustíveis nos EUA para 35 bilhões de galões até 2022 e da União
Européia, que determina que 10% dos combustíveis para transporte, até 2020,
sejam de origem dos biocombustíveis.
Preços de produtos básicos
mais elevados também representam maiores custos de produção de derivados, como
óleo de soja, pão, ração, fertilizantes e etc. Portanto, os efeitos indiretos
tiveram o papel de disseminar, nos últimos anos, a elevação do preço das
commodities para diversos outros mercados. Esse movimento também ocorre entre o
petróleo e o aumento de custos de insumos agrícolas e metais, como alumínio.
Até os bens substitutos experimentam aumentos de preços, como a borracha
natural, na esteira do maior custo de produção da borracha sintética, e o
carvão, que tem sido utilizado em larga escala para substituir a geração de
energia via petróleo, que é mais cara, em especial na China.
Por fim, tem-se o fator
financeiro. Na medida em que os contratos de negociação de commodities foram
incorporando as sofisticações financeiras dos demais ativos, e se disseminaram
entre os investidores, transacionar derivativos desses produtos passou a ser
visto como um investimento que pode diversificar riscos e, além disso, render
bons resultados para a carteira de clientes de bancos de investimento e fundos
de hedge. Com a queda dos juros básicos em economias desenvolvidas, e o
enfraquecimento do dólar frente as principais moedas, diversos investidores
lançaram-se, nos últimos anos, na busca por retornos mais satisfatórios, e o
mercado de commodities apresenta bons
atrativos.
Diante dos fatores apontados
como determinantes do atual preço das commodities,
é de se esperar que os mesmos continuem pressionados, com oscilações
características de um período de turbulência. De um lado, uma boa notícia para
a balança comercial brasileira, que voltou a ter nesses preços, um importante
aliado no processo de geração de superávits. Por outro, há que se considerar os
impactos inflacionários. Porém, como a expectativa é de manutenção do patamar e
não de contínua expansão dos preços, uma futura acomodação da inflação nos
alimentos pode acontecer.
Publicado no Informe Econômico de 22/04/2008
Nenhum comentário:
Postar um comentário