domingo, 10 de agosto de 2014

A função social da indústria: existir!

As grandes decisões de investimento em
atividades produtivas têm o poder de modificar a
estrutura econômica de municípios, regiões e até de
Estados. No ambiente industrial, há diversos exemplos
espalhados pelo Brasil. Foi assim com os
investimentos siderúrgicos em Ipatinga, Minas Gerais,
no início da década de 1960; com o Pólo
Petroquímico de Triunfo, no Rio Grande do Sul, no
início da década de 1980; com os investimentos na
indústria de celulose no município de Aracruz, no
Espírito Santo, ao final da década de 1980; e também
com a indústria de veículos automotores em São
Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Rio
Grande do Sul. Isso sem falar em diversos outros
empreendimentos industriais que continuam a
modificar o “perfil econômico” de regiões no Brasil.

Um dos exemplos mais recentes foi a
construção de uma fábrica de automóveis no Estado
da Bahia. Entre 1996 e 2001, a conformação industrial
daquele Estado esteve concentrada em apenas três
atividades que, juntas, representavam 70% do PIB da
indústria local: (i) química, com a parte de fabricação
de derivados de petróleo – polietileno, combustíveis e
demais produtos; (ii) alimentos e bebidas, como
refrigerantes, óleo de soja refinado; (iii) fabricação de
celulose e papel, sendo o maior produtor brasileiro de
pastas químicas de madeira. Porém, com o início das
atividades de fabricação de automóveis em Camaçari,
um novo pólo industrial surgiu a partir de 2002 e, tal
como a experiência de outros municípios e regiões na
história da indústria brasileira, as repercussões sobre a
riqueza local foram significativos.
Em 2001, eram 29 pequenas empresas
envolvidas na fabricação de veículos automotores,
reboques e carrocerias localizadas naquele Estado.
Juntas, empregavam apenas 525 pessoas. De acordo
com a última pesquisa do IBGE, em 2008, o número
de empresas passou para 80. Movimento idêntico
pode ser verificado nos empregos, que saltou, em sete
anos, para 8,9 mil pessoas. Mais empregos, mais
massa de salários. E sua evolução média anual foi de
71% nesses sete anos. Descontados os efeitos
inflacionários, de uma massa de salários de R$ 7
milhões/ano, esse segmento pagou em 2008 o
equivalente a R$ 303 milhões. No total, desde 2002,
foi transferido para os trabalhadores o equivalente a
R$ 1,3 bilhão, somente com o pagamento de salários.
Dá para imaginar os efeitos multiplicadores gerados
sobre a economia do Estado, e que se espalham na
compra de produtos no comércio, de diversos tipos de
serviços como, recreação, educação, transporte, lazer
e, claro, também no pagamento de impostos.
A título de ilustração, supondo uma propensão
marginal a consumir da ordem de 0,6, que já seria
considerada pequena, ou seja, de cada R$ 1 de salário
R$ 0,6 são destinados para o consumo final. Além
disso, mantendo tudo o mais constante – valores reais,
impostos – e considerando o efeito vazamento no gasto
dos salários, para uma alíquota efetiva de 7% de ICMS,
essa movimentação de renda pode ter gerado uma
arrecadação da ordem de R$ 230 milhões nesse período.
Aqui não se considera, por exemplo, o ICMS direto, e
que incide sobre a fabricação e venda do produto. E
sim, aquele proveniente do efeito multiplicador da
renda gerada com o pagamento de salários. Também é
possível identificar impactos na cadeia produtiva.
Atualmente, o Estado é um grande produtor de
pneumáticos e uma nascente indústria de peças e
acessórios, ambos usados em veículos. Entre 2001 e
2008, surgiram 130 novas indústrias no segmento de
borracha e plástico, e o número de empregos nesse
segmento saltou de 4.300 para 12.500. Impactos
similares ocorreram na indústria de máquinas e
equipamentos, cujos empregos, para o mesmo período,
saltaram de 2.736 para 8.600.
É difícil encontrar indicadores de
competitividade setorial aberto para os estados. Nesse
caso, podemos recorrer à relação custo de matériaprima
e componentes sobre a receita líquida de vendas.
Informações estas que estão na PIA/IBGE. Por mais
imperfeito que possa ser o indicador, o fato é que há
fatores que indicam a existência ou não de elevados
custos de produção em uma região e, portanto, menor
competitividade. Nesse caso, uma relação mais elevada
pode estar sinalizando: (i) que os insumos utilizados
pela indústria, localizada em uma região, são mais caros
que aqueles encontrados em outra localidade; (ii) que a
mesma está pagando mais impostos estaduais que as
outras; (iii) que a receita que obtém com a venda do
produto é menor que os demais produtores; (iv) pode
refletir elevados custos de logística. Ou então, uma
combinação desses fatores. É claro que a existência de
uma cadeia produtiva desenvolvida e próxima, reduz os
custos dos insumos e que, incentivos tributários, seja no
produto final, ou então na cadeia, podem ter reflexos
positivos nessa competitividade. Por exemplo, uma
indústria de automóveis que tem fornecedores de
pneumáticos, peças e acessórios ou de aço, que estejam
mais próximos. Essa relação para o segmento de
fabricação de veículos automotores na Bahia está em
63%, acima da média do Brasil, que é de 60%. Mas,
esse valor é bem menor que os 75% de 2004 e 2005. Ou
seja, o segmento vem se beneficiando ou de menores
impostos, proximidade de fornecedores, maior escala,
ou melhorias logísticas. As transformações sociais e
econômicas que a indústria tem o poder de materializar
sobre localidades, reforça o importante papel que tem a
desempenhar no desenvolvimento desse País.

Publicado no Informe Econômico 13/setembro/2010

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