terça-feira, 29 de julho de 2014

VEM AÍ O 6º ANO DE CRESCIMENTO MUNDIAL FORTE

         O cenário econômico conjuntural sofreu pequenas modificações após as turbulências do mercado de crédito subprime nos EUA. Os países emergentes permanecem com a maior contribuição para o crescimento mundial, com China, Índia e Rússia respondendo por cerca da metade desse desempenho. A inflação ainda apresenta uma fonte de risco, porém, se por um lado o núcleo da inflação permanece moderado nas economias desenvolvidas, o mesmo não se pode dizer dos resultados para os índices de preços nos mercados emergentes, que sentem a elevação dos preços dos alimentos. Nesse caso, temos tanto choques de demanda, em especial devido ao maior consumo de milho para a produção de biocombustível, quanto choques de oferta, com as dificuldades climáticas em determinadas regiões. Acrescenta-se também o fato de que o gap do produto (a diferença entre a produção potencial e a realizada) está pequeno, e com tendência a diminuir. Tal resultado sinaliza que a economia mundial apresenta uma expansão da demanda que não está sendo correspondida na mesma medida pela oferta.

       De qualquer maneira, a balança da política monetária pesou mais para os riscos de desaquecimento econômico, e mesmo diante de uma volatilidade ainda elevada no preço do petróleo e dos problemas nos mercado de crédito, o Federal Reserve promoveu um aumento de liquidez na economia americana. Esses eventos recentes apenas contribuíram para reforçar a tendência de perda de valor do dólar frente as principais moedas no mundo. Ressalta-se que tal comportamento é o resultado não apenas da existência de um déficit em conta corrente ainda elevado nos EUA, da ordem de 6% do PIB, mas também da projeção de menor crescimento econômico para o biênio 2007/2008. Ressalta-se que as expectativas são de uma correção lenta e gradual do déficit em conta corrente até o ano de 2012. Porém, uma condição necessária para a consolidação desse ajuste é a manutenção de um dólar mais fraco.
       Nos mercados emergentes, a crise do subprime representou uma espécie de “soluço” nos indicadores de mercado. Depois dos ajustes de curto prazo, os spreads dos títulos soberanos e de empresas voltaram a cair, as taxas de juros sinalizam continuidade na tendência de queda, em especial na América Latina e o crédito privado permanece com taxas de expansão de dois dígitos.
       Apesar dos riscos de crescimento ainda existentes, a revisão das projeções feitas pelo IMF(2007) indicam que a economia mundial caminha para o sexto ano consecutivo de forte desempenho. Em todo caso, esse resultado deve ser um pouco menor do que o projetado antes da assinalada crise no mercado de crédito. Assim, as expectativas são de crescimento do PIB de cerca de 5,2% em 2007 e 4,8% em 2008. Os principais motivos apontados no estudo para a revisão para baixo, estão nos EUA e nos países que mais sentiram os efeitos da piora financeira no mercado de crédito, como Canadá, México e parte da Ásia emergente. No primeiro caso, de uma expectativa no início do ano de crescimento da ordem de 2% do PIB, agora espera-se que a economia americana tenha resultado próximo a 1,9%. As projeções também assinalam que tanto a Europa quanto o Japão devem sentir os efeitos da apreciação do Euro e do Yen, da mesma forma que a redução do comércio mundial, e a expectativa é a de que a região do Euro cresça cerca de 2,5% em 2007 e o Japão 2%.
       Mas, os maiores impactos parecem estar mesmo reservados para o ano de 2008. Se por um lado a crise do subprime não foi o suficiente para descarrilar o crescimento mundial, por outro representou um duro golpe para a economia americana. As revisões do FMI colocam um desempenho de 1,9% para 2008 nos EUA, resultado que é 1 ponto percentual menor do que a expectativa anterior. Ressalta-se que essa projeção já embute mais um corte de 0,5 p.p. na taxa básica de juros dos EUA em 2007, atualmente os fed funds estão em 4,75%. A previsão do PIB para 2008 para a região do Euro (+2,1%), para o Japão (+1,7%), também foram revistas para baixo. Com isso, espera-se que as economias desenvolvidas cresçam em torno de 2,2% no próximo ano.
       Por outro lado, esse menor crescimento deve ser compensado pela boa performance dos países emergentes, cuja expectativa é de expansão da ordem de 7,4% do PIB. China (+10%), Índia (+8,4%) e Rússia (+6,5%), devem ser os personagens mais importantes nesse cenário. Ressalta-se que a intensificação do comércio internacional tem sido a grande responsável pelo atual ciclo. Para 2008, os países emergentes devem aumentar em cerca de 9% o volume de suas exportações, ao passo que as importações devem crescer 11,3%.
       Mesmo com a revisão para baixo das perspectivas de 2007 e 2008 e dos riscos ainda presentes, em especial nos índices de preços, a economia internacional caminha para completar um ciclo de seis anos de crescimento. Nesse cenário, as projeções feitas são de que o Brasil continue e ter um desempenho abaixo da média mundial. Nunca na história desse país ventos tão favoráveis foram tão pouco aproveitados.

IMF – Global Prospects and Policies, WEO, October, 2007.

Publicado no Informe Econômico/FIERGS 22/10/2007

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