segunda-feira, 28 de julho de 2014

ORÇAMENTO DO RS: DE BOAS INTENÇÕES.........

O primeiro passo para a melhoria na gestão dos gastos públicos, é conhecer o orçamento do governo. Nesse caso, o monitoramento pode ser feito em duas etapas: na elaboração do orçamento e, posteriormente na execução desse, que se estende durante todo o ano fiscal. Após o executivo elaborar a peça orçamentária, encaminha a mesma ao legislativo que analisa e pode propor cortes, acréscimos ou remanejamento de recursos. Nesse momento, a sociedade pode contribuir com projetos e contestar demais itens propostos pelo executivo. Uma vez aprovado, tem-se o acompanhamento do orçamento, através da execução orçamentária.
O orçamento de 2007 do Rio Grande do Sul, aprovado recentemente, traz em detalhes vários aspectos da expectativa da composição das receitas do governo do Estado e também das despesas. A despeito da existência de um déficit oculto, negligenciado com o objetivo de apresentar e aprovar, tal como previsto na lei, um orçamento equilibrado, há elementos interessantes a serem analisados.

No total, a proposta orçamentária de 2007 é da ordem de R$ 20,6 bilhões. Do lado das receitas, destaque para as de origem tributária, R$ 14 bilhões, de onde se projeta arrecadar R$ 12,4 bilhões em ICMS e R$ 887 milhões com o IPVA, os dois mais representativos tributos estaduais. Vale lembrar que ambos impostos significam um crescimento nominal sobre o valor arrecadado de 2006 de 5,35% e 11,3% respectivamente. Considerando uma inflação esperada de 3% para o ano, a primeira estimativa não chega a ser irrealista, porém, no caso do IPVA será necessário um esforço adicional de fiscalização para se chegar à projeção que consta no orçamento.
Do lado das despesas, os gastos com pessoal e encargos sociais representam a maior parcela, são R$ 9,9 bilhões. A seguir, tem-se o item “outras despesas correntes”, com R$ 7,9 bilhões, onde estão presentes gastos com manutenção e transferências a municípios. Por fim, entre juros e encargos de dívida estão previstos gastos da ordem de R$ 1,5 bilhão no ano de 2007. O valor dos investimentos (R$ 865 milhões) está em linha com as projeções que foram feitas no orçamento de 2006, R$ 865 milhões, em 2005, em R$ 850 milhões e também de 2004, R$ 861 milhões. Porém, dada a baixa flexibilidade do orçamento em itens como pessoal, transferências constitucionais e com a dívida, a probabilidade de não realização desses investimentos ao longo do ano é alta, como pode-se comprovar na comparação entre o orçado e executado nessa rubrica em anos anteriores. Em todo caso, o primeiro passo, que era a colocação dos projetos no orçamento, foi dado. Agora, para cobrar a sua execução, é necessário que se tenha muito mais do que um bom andamento das projeções de receita e despesas do orçamento, é preciso monitorar e cobrar do governo a execução desses projetos, dado que muitos estão vinculados a repasses de recursos da União ou então são provenientes de convênios com organismos internacionais ou de recursos das autarquias ou fundações.
Um bom exemplo é a previsão de construção de uma unidade da rede Sarah de hospitais na cidade de Santa Maria. O custo estimado para as obras no ano de 2007 é de R$ 10 milhões. Destaca-se que esses recursos têm como origem o tesouro nacional, a partir de vinculação constitucional. Porém, mesmo diante dessa exigência legal de aplicação do recurso, é importante que seja feito o monitoramento do repasse a partir do orçamento da União. Outro projeto previsto para 2007 no Rio Grande do Sul é a construção do Porto dos Casais, em Porto Alegre, cuja dotação orçamentária é de R$ 400 mil.
No tocante a rodovias, entre construção, restauração, pavimentação e conservação, estão previstos investimentos da ordem de R$ 268 milhões. Destaca-se que uma parte desses projetos é nova, ou já estão em execução e, parte dos recursos são provenientes dos cofres do Estado, outras de repasses da União e também há a previsão de convênios e recursos próprios do DAER.
Ainda no que diz respeito à infra-estrutura, há um projeto para a dragagem dos canais de acesso ao porto do Rio Grande, cujo valor estimado é de R$ 32 milhões. Destaca-se que a origem dos recursos é da autarquia responsável, a superintendência do porto de Rio Grande, mas, foi feita dotação no orçamento de apenas R$ 9,3 milhões. Ou seja, apesar de estar seguindo as diretrizes que foram definidas nos Rumos 2015, não será em 2007 que se conseguirá resolver esse problema em um dos principais portos do país, pelo menos com o que está proposto no orçamento. Vale lembrar que o projeto Rumos 2015 também definiu diversas prioridades de gastos em infra-estrutura de aeroportos. Tal diretriz consta na proposta orçamentária de 2007, em especial com investimentos nos municípios de Ijuí, Santo Ângelo, Santa Rosa, Vacaria e Caxias do Sul, previstos em cerca de R$ 16 milhões, além de reformas, conservação e instalação de equipamentos em outros aeroportos no estado.
Como pode ser visto, quando a matéria é investimento, o orçamento do RS para 2007 está cheio de boas intenções, porém será difícil equalizar esses em um cenário de dificuldades financeiras. Dada a constante falta de realismo do orçamento no Estado, o regime de caixa será uma boa ferramenta de gestão, mas não será o suficiente para alavancar os investimentos necessários. Nesse campo, as concessões e as PPP’s são boas alternativas para o governo devolver a competitividade ao setor produtivo gaúcho.

Publicado no Informe Econômico/FIERGS 22/01/2007

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