segunda-feira, 28 de julho de 2014

UM FELIZ NATAL....

O ano de 2006 foi mais um ano positivo em termos de crescimento mundial, sendo sua performance mais uma vez desenhada pelo bom desempenho das economias americana, chinesa e japonesa. A Europa também apresentou taxas de crescimento elevadas, registrando os melhores resultados dos anos recentes. Nem mesmo os aumentos insistentes do preço do petróleo nos primeiros sete meses do ano e o aumento das taxas de juros internacionais foram suficientes para frear o crescimento da economia mundial que termina o ano com uma expectativa de expansão do PIB de 5,1%.  A única notícia ruim são as pressões inflacionárias existentes nas principais áreas econômicas do mundo (EUA, Europa e Japão) que colocam novamente sobre a dependência da dinâmica do preço do petróleo a possibilidade de ajustamentos via novos aumentos das taxas de juros.
Os países emergentes também se saíram bem em 2006, com um crescimento de 7,3%. Nesse cenário de renda mundial em expansão, e, portanto, de boas oportunidades, 2006 foi um tanto frustrante para os brasileiros, e especialmente para os gaúchos. A economia brasileira, depois do soluço de crescimento no primeiro trimestre, fortemente alicerçado no ajustamento de estoques, entrou numa trajetória de estagnação explicada em parte pela combinação de câmbio valorizado e taxa de juros alta, mas estruturalmente justificada pela ausência de reformas que aprisionam o país num círculo de crescimento médio de 3,5%. Em 2006, apesar dos resultados fartos da arrecadação federal, o governo perdeu uma boa  oportunidade de ajustamento das contas públicas e, com isso, novamente adiou-se investimentos importantes de infra-estrutura, fundamentais para possibilitar que se o país tiver fôlego para crescer 5% ao ano (o número mágico do governo), consiga de fato crescer 5% ao ano.

Para a economia gaúcha, o resultados foram estatisticamente positivos, em virtude de estarem fortemente apoiados sobre bases de comparação muito baixas, frutos de um ano de 2005 marcado pela seca, pela restrição de créditos de ICMS, pelo aumento das alíquotas e pela intensificação do forte processo de valorização cambial. Em termos setoriais, a agropecuária gaúcha apresentou uma melhora intensa em 2006, especialmente justificada pelo desempenho das lavouras. A safra de soja aumentou 236,78% e a de milho, 261,17%. Apesar da soja não alcançar os resultados aferidos em 2003, o resultado de 8,2 milhões de toneladas pode ser considerado bastante positivo. Mesmo a queda de 18% no preço médio da safra associada à valorização cambial, o produtor iniciará 2007 numa situação diferente da 2006. Apesar de ainda endividado em virtude da seca 2004/2005, o produtor conta com produto para a venda, algo fundamental para a dinâmica da economia gaúcha em 2007. No caso do milho, o aumento da safra foi de 261,17%, levando a safra a atingir a marca de 5,3 milhões de toneladas, marca superior à verificada em 2003. Entretanto, a queda do preço médio foi acentuado, cerca de 32,4%. As demais culturas apresentaram ligeiro aumento, à exceção do trigo que apresentou uma redução de 56,29% e do arroz com uma diminuição marginal de 0,24%. O caso trigo é apontado pelo IBGE como um problema nacional. As causas assinaladas para a redução da safra são a queda no total das áreas plantadas em todos os estados produtores, o preço baixo do produto no mercado interno e as dificuldades de comercialização enfrentadas nas últimas safras. O IBGE também destaca a descapitalização dos produtores, aliada à inadimplência e a conseqüente restrição ao crédito, que resultaram numa implantação da safra com baixo nível tecnológico. Para 2007, as expectativas são de que a safra gaúcha sofra uma redução marginal comparada com a de 2006, porém não há perspectivas de recuperação para a safra de trigo.
A indústria gaúcha também patinou em 2006. O IDI alcançou a marca de 19 meses no negativo , vindo a reverter as taxas de crescimento mês contra mesmo mês do ano anterior apenas em outubro. O ano foi marcado pela gripe aviária que prejudicou os resultados da indústria alimentícia, pela crise da agricultura em 2004/2005 que manteve seus efeitos sobre máquinas e equipamentos e pelo câmbio que prejudicou o desempenho do setor coureiro-calçadista que, por sua vez, só conheceu aumento nas exportações em virtude de aumento de preços. Na indústria, a destruição de empregos foi de 10 mil postos em 2006, comparado-se  com o estoque no período de janeiro a setembro de 2005. Porém, as perspectivas para 2007 são de consolidação do processo de reversão da crise vivenciada nos dois últimos anos.
O comércio no Rio Grande do Sul apresentou um desempenho razoável em 2006, segundo dados da FEE, vindo a reverter seu processo de queda já em meados no ano. Os resultados estão fortemente alicerçados no fato de que a crise vivenciada pela indústria esteve muito vinculada ao setor exportador. As melhorias relacionadas à renda real dos trabalhadores e a criação líquida de empregos na economia (no todo) também amenizaram os efeitos sobre o setor. 
Enfim, o Brasil e o Rio Grande do Sul não viverão um “tão feliz Natal” como se esperava no início do ano, porém talvez esse fim de dezembro seja o anúncio do início de um Ano Novo melhor que 2006.

Publicado no Informe Econômico/FIERGS 18/12/2006


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