domingo, 10 de agosto de 2014

Índia: a China do futuro?

Na última década o mundo assistiu a China
ganhar espaço no cenário econômico internacional.
Com custos de mão-de-obra consideravelmente
baixos, o País gerou ganhos de competitividade, o
que, por sua vez, contribuiu para que alcançasse
altas taxas de crescimento do produto.
Recentemente, o Goldman Sachs realizou um estudo
sobre outro importante País, a Índia, com foco no
aumento esperado da força de trabalho indiana nas
próximas décadas. Estima-se que, entre os anos de
2010 e 2020, deverão entrar para a população
potencialmente ativa (PPA) deste País cerca de 110
milhões de pessoas. Entre os anos de 1991 e 2010, a
China teve um aumento de 141 milhões de pessoas
nesta parcela da população. Esta similaridade, dentre
outras, sugere que a Índia pode ter desempenho
econômico similar à China nos próximos anos.
Para que se tenha ideia da real magnitude do
número projetado para a Índia, basta que seja feita
uma comparação com o aumento esperado para
outros países. No mesmo período, as estimativas
populacionais indicam que cerca de 16 milhões de
pessoas entrarão para esta parcela da população no
Brasil e na China (em cada um destes países). Nos
Estados Unidos, espera-se que o aumento da PPA
seja menor, de aproximadamente 10 milhões. No
mesmo grupo populacional, estima-se que, no Japão,
haverá uma queda da ordem de 3 milhões de
pessoas.

A evolução tardia da pirâmide etária indiana,
em comparação com os demais países do leste
asiático, se deve a um declínio mais gradual das
taxas de natalidade e mortalidade nas décadas de
1960 e 1970, o que resultou em um processo de
transição demográfica mais lento. As estimativas
indicam que a população potencialmente ativa do
País crescerá até 2040, porém, em ritmo menos
acelerado do aquele que será observado na próxima
década.
A Índia pode se beneficiar deste cenário de
diversas formas. Atualmente, o acesso ao crédito e
ao capital global é consideravelmente mais fácil do
que nas décadas de 1970 e 1980. Além disso, os
avanços na tecnologia de informação e nas
comunicações têm contribuído significativamente
para o aumento da produtividade. Por fim, destacase
que a força de trabalho indiana aumentará no
mesmo período em que esta parcela da população
estará diminuindo em diversos países ao redor do
mundo. Este fator, combinado com o baixo custo do
trabalho observado no País, tende a torná-lo um
grande atrativo. Na Índia, a remuneração de um
trabalhador por hora na indústria é de cerca de um
dólar. No Brasil e no México, este custo sobe para
US$ 5,01 e US$ 3,07, respectivamente.
Há três principais fatores que estão
conduzindo a este expressivo crescimento da força de
trabalho indiana: o aumento da urbanização, da
participação de mulheres no mercado de trabalho e
das pessoas que estão na faixa etária entre 30 e 49
anos. As estimativas mostram que cerca de 290
milhões de indianos devem se mudar para as cidades
até 2030, sendo que este número pode chegar a 640
milhões em 2050. Atualmente, a participação de
mulheres na força de trabalho na Índia é baixa, de
33%. Entretanto, importantes mudanças, como
aumento do acesso à educação, melhorias na saúde e
retardamento dos casamentos e do nascimento de
filhos, tendem a alterar este cenário.
As estimativas do Goldman Sachs indicam
que estes fatores podem levar a um aumento de 4 p.p.
na taxa de crescimento do PIB anual do País na
próxima década. Uma das conseqüências desta nova
configuração demográfica é o aumento esperado nos
gastos de consumo, que em 2020 devem ser 3,5 vezes
superiores ao observado para 2010. Ainda, a
composição destes gastos sofrerá modificações, sendo
que o aumento das despesas com serviços deve ser
consideravelmente mais elevado em relação ao que
será observado para a demanda de bens. Gastos com
saúde e educação serão os principais destinos,
devendo, em 2020, ser mais de 5 vezes superior ao
observado em 2010. Outra importante conseqüência
da nova configuração da pirâmide etária indiana é o
aumento da taxa de poupança doméstica. As projeções
do Goldman Sachs sugerem que esta deva subir para
40% do PIB até 2016, se mantendo neste nível até o
final da década.
Entretanto, para que estas potencialidades
possam se concretizar, a Índia deve superar uma série
de fragilidades existentes, necessitando, por exemplo,
investir fortemente em educação e na qualificação dos
trabalhadores. Outra necessidade latente é a reforma
das leis trabalhistas. Na Índia, para que uma empresa
com mais de 100 funcionários possa realizar
demissões, é preciso pedir a permissão do Governo.
Ainda, o Índice de Proteção do Emprego, calculado
pela OCDE, coloca o País como o que possui o oitavo
mercado de trabalho mais rígido, dentre os 40 países
pesquisados. É sabido que fortes restrições em se
admitir e demitir trabalhadores aumentam os custos e
diminuem a competitividade. Sem que importantes
reformas sejam realizadas, é possível que as
potencialidades não saiam do campo potencial.

Fonte: Goldman Sachs Economics. Paper Nº 201. India’s Rising Labour
Force. 2010.

Publicado no Informe Econômico 04/outubro/2010

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