A
inflação continua a surpreender a todos os agentes econômicos: i) as famílias
que, ao se depararem com os preços altos começam a reduzir o consumo; ii) as
empresas que flertam com a retração da demanda, de um lado, e a continuidade
das pressões salariais de outro, pisam no freio da produção e, por tabela,
postergam investimentos; iii) e o governo que também fica surpreendido, mas não
parece preocupado.
A ciência econômica nos mostra
que há, fundamentalmente, dois canais de combate aos preços, o fiscal e o
monetário (sim, também é possível usar o câmbio e fazer congelamento de preços,
mas não são medidas eficientes). O primeiro canal é direto. Na medida em que o
governo segura gastos, para um dado nível de arrecadação, contribui para
retrair a demanda agregada da economia (não se preocupe, esse é o nome técnico
dado pelos economistas para o PIB). O segundo não é direto, são ações
paulatinas, demora um pouco mais de tempo para se materializarem e geram
diversos outros impactos não desejados na economia. Vamos analisar um pouco de
cada um.
Os dados mais recentes de
resultado fiscal sinalizam a materialização de um desequilíbrio que está em
curso há mais de 10 anos. Desde 2003 que as receitas do Tesouro Nacional
crescem a uma taxa média de 12,8% ao ano e as despesas 13,5% (sim, você
continua a pagar muitos impostos, e acho que não vai parar por aí!). Pode
parecer pouco mas, 1 ponto percentual de desequilíbrio ao ano depois de uma
década torna-se significativo. Diante desse quadro, que acabou por contribuir
para a redução da nota de classificação de risco do Governo Brasileiro ainda
esse ano, alguma ação está sendo feita para controlar o avanço do gasto? Parece
que não. Na verdade o que se nota é movimento de aumento de impostos, como
visto no setor de bebidas, ou então de retirada de estímulos dados
anteriormente, como no setor automobilístico. Além disso, a política de
reajuste real do valor do salário mínimo é custo direto na previdência (a
despesa aumenta mais que a receita para cada R$1 de aumento no salário mínimo).
Por favor, me deixa dar mais um exemplo apenas. O seguro-desemprego. O gasto
com essa rubrica era de R$ 14 bilhões em 2006 e, ao encerrar o ano de 2013,
saltou para R$ 45 bilhões (nem vou comentar sobre as medidas anunciadas no dia
01 de maio). Pronto. Tire suas próprias conclusões sobre o esforço fiscal e dê
sua nota de risco.
Vamos à política monetária. Além
do aumento de juros, que não está sendo suficiente para segurar o consumo, o
Banco Central tem à sua disposição medidas como restrição de crédito encurtando
os prazos e aumento do compulsório. Mas, de que adianta isso se os bancos
públicos, que já representam mais de 52% do total de crédito na economia,
continuam a aumentar suas carteiras de crédito? Além do mais, não há política
monetária que dê conta de segurar preços na economia com uma política fiscal
prá lá de frouxa. Por isso que a autoridade monetária já jogou a toalha, e
também passou a ser torcedor.
Vocês já sabem o que restou: i)
usar o câmbio. Alguém duvidava disso? Ii) controle de preços. Bem, vamos ficar
atentos para o fato de nos próximos meses ocorrer alguma visita oficial à
Argentina e Venezuela. Em resumo:
estamos flertando perigosamente com o dragão.
Publicado
em Maio de 2014
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