As freqüentes análises sobre o
desempenho conjuntural dos países emergentes sempre acabam por incorporar as
previsões para as próximas décadas. Esse vício de economista nos dias atuais é
perfeitamente justificável por pelo menos dois motivos. Primeiro que, “nunca
antes na história econômica”, países fora do bloco denominado de “1º mundo” ou
então “desenvolvidos” foram os protagonistas do crescimento. Não que estejamos
livres do efeito contágio, mas que, as condições macroeconômicas são outras. E
aqui entra o segundo motivo para o vício. Em comum, o fato de que ocorreram
diversas modificações estruturais nos emergentes, da China e Chile no começo da
década de 1980 à Índia e África do Sul mais recentemente. Reformas que
resultaram em maior grau de abertura, acesso ao crédito, menor participação do
setor público nas decisões de investimento, disciplina fiscal, transparência
nas instituições e regras mais estáveis.
Portanto,
é natural esperar que esses países reproduzam, em parte, a boa performance dos
últimos anos. Além disso, uma importante mudança psicológica está em curso.
Assim como é difícil tirar um doce de criança sem ser incomodado pela
reclamação, os governantes desses países encontrarão dificuldades políticas se
não conseguirem manter essa boa performance econômica. A população dos países
emergentes, acostumadas a problemas sócio-econômicos, está começando a
experimentar os benefícios de uma economia de mercado. Portanto, reformas
estruturais, mesmo que pequenas, devem caminhar no rastro de uma pirâmide de
renda mais estreita, com uma maior parcela da população pertencendo à classe
média. Essas transformações já são passíveis de comprovação na China, Índia,
Brasil e Rússia, o G-4 do momento.
Uma
olhada sobre os números projetados para essas economias permite antecipar
alguns movimentos. A população no País é de cerca de 142 milhões, e com uma
grande força de trabalho. Porém, a taxa de natalidade continua em queda, sendo
de 1,3 filhos por mulher, e a expectativa de vida dos homens é de apenas 60
anos, baixa inclusive quando se compara com outros países emergentes.
Ressalta-se que o governo dá incentivos para que as mulheres tenham mais filhos
mas, como os números mostram, sem sucesso. Assim, a projeção é que a população
do País caia, em 2050, para cerca de 110 milhões.
Assim,
não será a taxa de crescimento da população da Rússia que irá torná-la uma
importante economia daqui quinze anos mas, sim, a projeção de ganhos de
produtividade em um cenário de crescimento médio do PIB em torno de 3,3% ao
ano, o suficiente para triplicar a riqueza do País. Dessa forma, a combinação
de menor crescimento da população do que do PIB irá produzir um impacto
significativo na renda per capita, projetada para US$ 20 mil/ano em 2020, cerca
de 2 vezes maior que a do Brasil projetado para aquele ano.
Os
impactos sobre o mercado de consumo interno e a demanda por importações no
País, serão evidentes. São transformações que já se encontram em curso. Em
1995, existiam cerca de 95 carros para cada grupo de 1.000 pessoas. No ano
passado, esse número era o dobro, 180 carros para cada grupo de 1.000 e, a
projeção é de uma relação de 0,4 carro por pessoa em 2020. Um avanço que irá
demandar a expansão da malha viária no País. Além disso, outras áreas de
infra-estrutura também irão demandar pesados investimentos do governo. Projeta-se
que, em dez anos, o número total de pessoas transportadas por avião dobre e
haverá uma necessidade de aumentar em 60% a capacidade instalada de geração de
energia elétrica.
Porém,
não será apenas na esteira de um preço do petróleo elevado que o País atingirá
esse patamar de renda. Assim como atrela-se a manutenção da boa performance
passada no Brasil, Índia e China à solução de importantes desafios estruturais,
a Rússia tem deficiências importantes para superar. Do ponto de vista
macroeconômico, as avaliações são de que o País apresenta boas contas públicas
e equilíbrio nas contas externas, duas variáveis influenciadas positivamente
pelo preço do petróleo. Porém, o governo não tem conseguido superar as
dificuldades com a taxa de inflação, que ultrapassa os 15% em 12 meses.
Outro
desafio importante é colocar o País na Organização Mundial do Comércio. Dentre
todas as grandes economias, a Rússia é a única que não integra a instituição,
fato esse explicado pelas constantes disputas políticas e econômicas que o País
trava com seus vizinhos. Por fim, os investimentos, na casa dos 20% do PIB, são
baixos e, a manutenção do ciclo de crescimento depende de aumentar a capacidade
instalada ou, então, melhorar a produtividade dos trabalhadores. Esse ponto é
particularmente importante nas grandes cidades, onde a taxa de desemprego chega
a apenas 1,5%.
No ambiente microeconômico, à
exceção do nível educacional, há muitos desafios por vencer. Por fim, a
corrupção, a transparência nas leis e a instabilidade política são três
problemas institucionais que o País precisa superar. O sucesso econômico da
Rússia é muito importante para a economia mundial, em especial para o Brasil,
que mantém importantes laços comerciais com aquele País.
Publicado no Informe Econômico de 08/09/2008
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